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RESUMO:
O artigo em questão discorre sobre o controle inibitório, sua funcionalidade e importância para o processo de aprendizagem, sendo uma das habilidades cognitivas que compõe as funções executivas do cérebro. Além de constatações neurocientíficas acerca desse assunto, o texto também aborda sobre a Neuropsicopedagogia, área que estuda como a aprendizagem se dá no cérebro, trazendo também reflexões sobre o papel do neuropsicopedagogo clínico, quando constata algum déficit executivo de inibição em seus pacientes, sugerindo atividades que estimulam o desenvolvimento dessa habilidade.
PALAVRAS CHAVES: Controle inibitório, Neuropsicopedagogo Clínico, Aprendizagem, Estimulação.
1 INTRODUÇÃO:
Não é de hoje que se estuda sobre o cérebro, sua composição, divisões e formas de funcionamento. Há tempos pouco se sabia do seu lobo frontal e das suas reais funções já que essa parte do cérebro foi a última a ser modificada pela evolução humana. Atualmente muitos estudos e pesquisas neurocientíficas comprovam que principalmente o córtex pré-frontal é responsável por habilidades cognitivas mais bem elaboradas do ser humano.
A esse conjunto de habilidades podemos chamar de funções executivas, as quais servem para coordenar principalmente o pensamento, a emoção e a ação, para que se possa traçar metas na busca de objetivos definidos. Mais especificamente, como cita Trigo (2018):
Entende-se essas funções como um conjunto de processos cognitivos que possibilitam ao indivíduo perceber e responder aos estímulos do ambiente, gerenciar e antecipar ações e comportamentos, mudar a direção de pensamentos e comportamentos quando necessário, antecipar e planejar metas.
Esses processos cognitivos executivos envolvem a atenção, a memória de trabalho, o planejamento, a flexibilidade cognitiva e o controle inibitório, funções essenciais para o processo de aprendizagem. Exemplos práticos muito claros dessas funções são citados pelo Center on the Developing Child (2011):
Preparamos o jantar enquanto, ao mesmo tempo, ajudamos nossos filhos com a lição de casa e fazemos anotações sobre o que precisamos agendar para a semana. Concentramo-nos em nosso trabalho quando precisamos e em nossas famílias quando eles precisam de nós. Lembramo-nos do número de telefone que nosso vizinho acabou de nos dar para podermos anotá-lo assim que encontrarmos uma caneta. Respiramos profundamente, ao invés de buzinarmos, se o carro em nossa frente não consegue andar logo que o semáforo fica verde. Quando adultos, nossas capacidades para multitarefa, para demonstrar autocontrole, para seguir instruções com várias etapas, mesmo quando interrompidos, e para mantermos o foco no que estamos fazendo, apesar das constantes distrações, são as que embasam o comportamento deliberado, intencional, direcionado ao objetivo que é necessário para o sucesso na vida cotidiana e no trabalho.
Contudo, essas habilidades não amadurecem com o crescimento do ser humano, necessitam ser estimuladas e desenvolvidas com o passar do tempo, já desde a infância, sendo essencial que profissionais da área da educação saibam como elas funcionam, para que servem e quais ganhos trazem para o desenvolvimento da criança.
Muito se fala de algumas dessas habilidades e como elas funcionam no cérebro, porém sobre a inibição pouco se ouve falar, mesmo sendo ela tão importante quanto às outras funções. Pode-se dizer que o controle inibitório é primordial para o sucesso das relações interpessoais e do aprendizado, pois é o que permite ao indivíduo controlar impulsos e pensamentos, ou seja, conforme Diamond (2013):
A capacidade de resistir a uma forte inclinação para fazer algo e, ao invés de ceder a essa inclinação, fazer o que é mais adequado ou necessário, faz com que possamos resistir ao primeiro impulso, de modo a não fazer algo de que nos arrependeríamos.
Desde que acordamos, até a hora que iremos voltar a dormir, necessitamos fazer uso dessa inibição, para nos corrigirmos, para aprender, para convivermos em sociedade de maneira adequada. Mas será que as crianças estão tendo bases construídas para a aquisição dessas habilidades? Se o córtex pré-frontal só termina a sua maturação no início da vida adulta e o controle inibitório se desenvolve nessa parte do cérebro, é possível estimular tal habilidade na criança?
Para responder essas questões e trazer algumas outras reflexões descendentes desse tema, o presente artigo pretende aprofundar-se sobre o controle inibitório e sua relação com a aprendizagem, bem como fazer um enfoque neuropsicopedagógico procurando responder a outras questões tais como: “Qual a importância de trabalhar o controle inibitório para o contexto da neuropsicopedagogia clínica?” e “Que tipos de ferramentas podem ser utilizados para o treino dessa habilidade?
2 CONTROLE INIBITÓRIO E APRENDIZAGEM
As funções executivas são imprescindíveis para o desenvolvimento humano, uma vez que servem como base para a construção da aprendizagem. Uma das suas funções fundamentais é o controle inibitório, já que é através dele que se adquire a capacidade de se autorregular frente as mais diversas situações do cotidiano, sejam elas esperadas ou não. Conforme Cognifit:
A inibição é uma das funções cognitivas mais usadas. É a forma em que o cérebro corrige um comportamento. A inibição é o que nos permite ficar calados quando queremos dizer algo, mas sabemos que não deveríamos. É o que ajuda a estarmos quietos e sentados na sala de aula. É o que ajuda a permanecermos seguros quando alguém passa para a nossa pista sem usar o pisca-pisca. É o que nos ajuda a estudar ou trabalhar, mesmo quando estamos entediados ou queremos nos levantar. A inibição permite você reagir perante situações imprevistas ou perigosas de forma rápida e segura.
Pode-se dizer que a inibição está diretamente ligada a outras funções cognitivas, principalmente à atenção, já que o controle inibitório auxilia a manter o foco em alguma coisa, mesmo que não se tenha vontade de fazer aquilo no momento, mas sabe-se que é o correto a ser feito, inibindo distrações externas e internas, possibilitando uma atenção seletiva. “A inibição nos permite uma medida de controle sobre nossa atenção e nossas ações, ao invés de simplesmente sermos controlados por estímulos externos, por nossas emoções, ou hábitos mentais ou comportamentais enraizados.” (DIAMOND, 2013)
O controle inibitório pode ser avaliado em três níveis, motor, quando, por exemplo, uma criança não consegue parar sentada; atencional, quando está fazendo uma atividade, mas é facilmente distraída por algo e comportamental, quando não consegue controlar algumas atitudes impulsivas, como esperar a sua vez de falar, etc. Essas dificuldades, muitas vezes, estão ligadas ao TDAH (Transtorno e Déficit de Atenção e Hiperatividade), o que necessita de uma avaliação bem criteriosa, a partir de uma determinada idade, para que a criança receba o acompanhamento e intervenção adequados para auxiliá-la no seu processo de aprendizagem.
É muito comum observar comportamentos inadequados em crianças, principalmente nas que se encontram na primeira infância. Elas querem mexer, subir, descer em tudo, qualquer objeto é sinônimo de oportunidade de ação para explorar, não tendo noção do perigo e das consequências que seus atos podem acarretar. Ademais não conseguem focar a atenção por muito tempo em uma coisa só, estando sempre em alerta aos mais diversos estímulos do ambiente que estão inseridas, o mais atrativo ganha a sua atenção por alguns minutos, mas logo já é substituído por outro e assim sucessivamente.
Esses comportamentos são justificados pelo excesso de neurônios que o bebê tem ao nascer para facilitar várias possibilidades de sinapses através das mais diversas experiências que ele vai vivenciando à medida que vai crescendo e explorando o mundo a sua volta. Consequentemente, pode-se dizer que não possui nada de inibição, seu autocontrole é inexistente, ao contrário, vive basicamente por impulsos.
Contudo, mesmo que a região do córtex pré-frontal do cérebro só termine de ser estruturada completamente na idade adulta, desde bem pequeno o bebê/criança pode e deve ser estimulado a desenvolver habilidades executivas, como é o caso do controle inibitório, pois já pode ir experienciando o desenvolvimento de habilidades mais simples, construindo assim uma base sólida para ao longo do tempo ir adquirindo a partir daí outras habilidades cada vez mais complexas, tornando a aprendizagem mais fácil e efetiva, em consonância com o amadurecimento cerebral.
Os cientistas que estudam as habilidades de funções executivas referem-se a elas como a base biológica para a aptidão escolar. Eles argumentam que a memória de trabalho competente, autocontrole cognitivo e as habilidades de atenção constituem a base sobre a qual a capacidade das crianças para aprender a ler, escrever e fazer matemática pode ser construída. Na prática, essas habilidades dão o suporte para o processo de aprendizagem (ou seja, o como) − focar, lembrar, planejar − que permite que as crianças dominem de forma efetiva e eficiente o conteúdo da aprendizagem (ou seja, o que), leitura, escrita, cálculo. (Center on the Developing Child, 2011, p.4-5)
É comprovado cientificamente que a criança tem condições de ser estimulada desde a tenra idade, construindo redes neurais que vão se fortalecendo à medida que cresce e de acordo com a sua idade (quadro 1).
Mesmo o cérebro humano tendo aptidão para desenvolver tais habilidades em cada fase da vida, muitas vezes estas não são estimuladas desde cedo nas crianças, acabando por tornarem-se adultos sem muitas condições de autocontrole perante as situações do cotidiano. Ademais podendo acarretar, desde cedo, problemas emocionais, sociais, comportamentais e cognitivos, afetando o desempenho da aprendizagem.
Uma pesquisa bem conhecida acerca da capacidade do autocontrole infantil é “O Teste de Marshmallow”, inventado pelo psicólogo Walter Mischel, realizado no início dos anos 70, com centenas de crianças em torno de 4 anos de idade. O teste consistia em colocar uma criança sentada em frente a uma mesa com um marshmallow em cima, sendo dada a instrução que ela poderia comê-lo a qualquer momento, porém, se conseguisse esperar que o pesquisador saísse e retornasse após 15 minutos, se ainda não tivesse comido, ganharia mais um. Os testes foram filmados e diversas reações foram observadas nas diferentes crianças testadas. As mais impulsivas não conseguiram esperar e comeram o marshmallow antes do retorno do pesquisador, entretanto muitas foram capazes de se controlar distraindo a sua atenção para passar o tempo e inibir os impulsos. Isso prova que é possível treinar habilidades de autocontrole em crianças pequenas, proporcionando estímulos de acordo com a sua fase de desenvolvimento.
O teste não acabou por aí, passados alguns anos, o pesquisador entrou em contato com os pais dessas crianças e descobriu que as que tiveram um menor autocontrole na testagem, foram jovens problemáticos e com baixo rendimento acadêmico, tendo alguns se envolvido com drogas e, mais tarde, na adultez apresentaram insucesso em vários aspectos da vida. Já as crianças que mantiveram o autocontrole, obtiveram sucesso acadêmico quando jovens e na vida adulta, tanto em aspectos profissionais quanto conjugais.
Em consonância com o teste citado, pesquisas mais recentes mostram a ligação da falta ou dificuldade de inibição com problemas comportamentais e menor desempenho na aprendizagem:
As crianças que têm problemas de manter-se concentradas e resistir a respostas impulsivas – duas habilidades nucleares de funções executivas centrais – não só têm problemas na escola, mas também enfrentam problemas para seguir instruções em geral e têm maior risco de apresentar comportamento agressivo e de confronto com adultos e outras crianças. (Center on the Developing Child, 2011, p.5)
Dessa maneira, pode-se constatar que o adulto que a criança se tornará no futuro, depende muito do que ela constrói desde a sua primeira infância, dos estímulos positivos ou negativos aos quais será exposta. Quando positivos, a ajudarão a controlar os seus impulsos, percebendo a hora de agir, a hora de parar, sabendo esperar e também a aumentar a sua capacidade atencional, conseguindo iniciar e finalizar uma tarefa, bem como tendo a capacidade de se corrigir e de obedecer regras, tendo uma maior probabilidade de alcançar o sucesso na aprendizagem.
3 NEUROPSICOPEDAGOGO CLÍNICO: COMO AUXILIAR NA ESTIMULAÇÃO DO CONTROLE INIBITÓRIO?
O mundo vem sofrendo transformações cada vez mais rápidas e intensas e para tentar acompanhar esse ritmo acelerado é necessário que a área da educação também se transforme criando profissões que tragam um novo olhar em relação ao processo de ensino aprendizagem, coerente às demandas de crianças e suas especificidades que vem surgindo a partir desse contexto atual.
Daí surgiu a Neuropsicopedagogia, com o intuito de dar um maior suporte científico a esse processo com um enfoque voltado para o funcionamento cerebral, mais especificamente, conforme a Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (2014, apud Russo, 2015, p.15):
A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos conhecimentos da Neurociência aplicada à educação, com interfaces da Psicologia e Pedagogia, que tem como objeto formal de estudo a relação entre o cérebro e a aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e escolar.
Dessa forma, é uma área que estuda como acontece a construção do conhecimento, propondo-se a identificar os pontos que possam estar dificultando esse processo, tendo um olhar específico de como se dá no cérebro, trazendo conhecimentos sobre como esse órgão funciona nas diferentes patologias, síndromes, transtornos e dificuldades de aprendizagem.
Então, cabe ao neuropsicopedagogo clínico, ser um constante estudioso dos processos específicos do cérebro de captação, armazenamento, memorização, elaboração e utilização de informações advindas do meio externo, para a partir daí poder detectar possíveis habilidades e dificuldades do sujeito que chega em seu consultório, buscando adaptar metodologias educacionais com estímulos adequados às suas necessidades, partindo das suas potencialidades, auxiliando-o assim na criação de novos caminhos neurais, para a concretização de uma aprendizagem efetiva.
Nessa perspectiva, esse profissional necessita realizar uma avaliação neuropsicopedagógica, verificando como estão se dando os processos cognitivos do indivíduo, visando a um encaminhamento ao profissional adequado e/ou ao planejamento de metas para uma intervenção baseada em atividades que estimulem os aspectos cognitivos que estão em defasagem.
O trabalho de estimulação neuropsicopedagógica vai partir do que a criança já sabe, de maneira lúdica e significativa, motivando-a a querer participar e resolver desafios cada vez maiores, levando em consideração além das suas competências e dificuldades, os seus gostos, a sua faixa etária e fase do desenvolvimento.
Daí a importância de adaptar as atividades às habilidades de cada criança e reduzir gradativamente a ajuda prestada para que ela vá ganhando autonomia, conseguindo resolver cada vez mais problemas sozinha. As crianças mais novas precisarão de mais apoio para aprender e lembrar regras e padrões ao passo que as mais velhas conseguirão ser mais independentes.(ARAÚJO, 2017)
No caso específico de atraso no desenvolvimento de habilidades do controle inibitório, não só jogos, brincadeiras e atividades variadas podem ser criadas e realizadas pelo neuropsicopedagogo para treinar e estimular o desenvolvimento de tais habilidades, como também a utilização de recursos tecnológicos, tais como os jogos digitais que exijam o uso de funções específicas do controle inibitório para suas resoluções. Assim, sendo possível organizar as suas sessões de intervenção utilizando-se de diferentes recursos e estratégias para a motivação do paciente em engajar-se nas tarefas propostas, aumentando a sua capacidade cognitiva nessa área executiva.
Um primeiro passo para dar base ao processo de desenvolvimento, é verificar com os pais como é a rotina dessa criança/jovem, orientando-os desde o início a organizá-la de maneira a facilitar e estimular as funções executivas, dividindo grandes tarefas em tarefas menores, direcionando ações, proporcionando também a construção da independência e autonomia do sujeito.
A estimulação neuropsicopedagógica para desenvolver e treinar o controle inibitório poderá ser realizada através de atividades de vida prática, como por exemplo, versar líquidos, transpor objetos com uma pinça de um recipiente para outro, abotoar e desabotoar roupas, amarrar cadarços, descascar e cortar alimentos, fazer receitas culinárias. Todas atividades tão simples que trabalham muitos aspectos cognitivos, incluindo habilidades do controle inibitório, já que para a realização dessas tarefas é necessário, atenção e concentração; monitoramento dos movimentos necessários para completar a atividade com sucesso e inibição de outros que podem atrapalhar; planejamento dos passos a serem seguidos, o que é necessário fazer primeiro e depois.
Outros ótimos recursos que poderão ser utilizados são os jogos de tabuleiro, como Ludo, Resta um, Xadrez, Damas, Senha, Batalha naval, Hora do Rush, além de jogos de cartas, opções para crianças maiores que envolvem o cumprimentos de regras, o desenvolvimento de estratégias para se alcançar um objetivo, por meio de um planejamento de ações e muita concentração, todas habilidades que envolvem a inibição. Para crianças menores pode-se adaptar alguns desses jogos, como também propor outros menos complexos, tais como Tapa certo, Lince, Jogo da memória, Quebra-cabeça, Pega-varetas.
Brincadeiras que envolvam músicas e movimentos corporais como dançar de acordo com o ritmo, obedecendo a comandos de movimentos, bem como canções e histórias cumulativas também contribuem muito para o desenvolvimento do controle inibitório uma vez que “[...] estimulam as funções executivas, porque as crianças têm de se mover em um determinado ritmo e sincronizar palavras e ações com o andamento da música. Todas essas tarefas colaboram com o controle inibitório e a memória de trabalho” (ARAÚJO, 2017).
Uma boa opção também é lançar mão de ferramentas tecnológicas, como jogos digitais, tais como jogos de videogame, jogos de computador bem como aplicativos específicos para o treinamento cognitivo. Boas sugestões de jogos cognitivos estão disponíveis na plataforma “Escola do Cérebro”, que podem ser jogados tanto em ambiente escolar como em ambiente clínico. Outra opção também é o software “CogniFit”, que oferece jogos de treinamento cerebral não só para crianças, mas também para adultos, além de disponibilizar testes cognitivos, não só para uso profissional, mas também individual e escolar.
Os jogos digitais podem apresentar algumas características semelhantes aos jogos tradicionais ou analógicos, tais como regras e objetivos, entretanto, esses jogos proporcionam o acesso a uma nova forma de linguagem que se beneficia do desenvolvimento das novas tecnologias digitais. Dessa forma, de acordo com Moita (2007), o jogador tem a possibilidade de experimentar novas formas de agir, sentir, pensar e interagir. A interação com jogos favorece o desenvolvimento de habilidades cognitivas, as quais ecoam na forma como os jogadores resolvem problemas, atuam e se comportam. (GARCIA, 2017, p. 41/42)
Muitas atividades e brincadeiras que contribuem com o desenvolvimento do controle inibitório podem ser realizadas com a família e na escola, pois exigem um maior número de participantes para a sua execução como por exemplo, Esconde-esconde, Passa anel, Dança das cadeiras, Vivo ou morto, Bruxa da cola, Estátua, jogos com bola, cordas, bambolês entre muitas outras brincadeiras que divertem e ensinam ao mesmo tempo. Ademais é fundamental incentivar e proporcionar momentos para a criação e dramatização de histórias e brincadeiras de faz de conta uma vez que, como cita Araújo (2017):
Quando uma criança brinca de bombeiro, de médico, de cozinheiro ou de professora, ela estabelece certas regras que orientarão sua conduta durante a encenação. Ao longo da brincadeira, ela busca seguir aquelas regras e inibe impulsos e atitudes que não se adequam ao papel desempenhado.
Nesse percurso, é fundamental que o neuropsicopedagogo faça um trabalho integrado com a escola, a família e os demais terapeutas do paciente, caso ele os tenha, buscando olhares múltiplos do caso, levando em consideração o indivíduo como um todo para melhor atendê-lo.
A participação da família no processo educacional é essencial para que ocorra o avanço do aluno com deficiência. Dessa forma, é importante perceber a família como parceira em um projeto comum: primeiramente ao potencializar os pais, que muitas vezes apresentam um discurso de impotência em relação àquilo que pode ser realizado para favorecer o desenvolvimento dos filhos; em segundo lugar, alterar a postura de profissionais que não compartilham informações, para uma abertura institucional que possa dialogar com as famílias e possibilitar a aplicação de procedimentos em outros ambientes (SUPLINO, 2007, apud GARCIA, 2017, p. 63)
Nesse sentido, o neuropsicopedagogo pode auxiliar no desenvolvimento de habilidades do controle inibitório não só proporcionando estímulos nas sessões de atendimento individualizado, mas também dando dicas de como os pais e a escola podem contribuir nesse processo de estimulação, treinando tais habilidades não só individualmente, como também através de atividades coletivas, que da mesma forma são fundamentais para essa construção.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Já se sabe que as funções executivas são essenciais para o desenvolvimento humano, pois envolve processos cognitivos que dão a base para a aprendizagem. Todos esses aspectos tem a sua devida importância e funcionam muitas vezes simultaneamente, ou seja, de maneira interligada e conjunta.
Conforme transcorrido ao longo do texto, o enfoque foi dado ao controle inibitório, proporcionando esclarecimentos teóricos acerca do que é, quais habilidades envolve, bem como dicas práticas de como pode ser estimulado desde a tenra idade da criança, mostrando subsídios científicos de que isso é possível.
Nesse sentido, é imprescindível que o neuropsicopedagogo clínico tenha bem claro como se desenvolve essa inibição bem como as demais funções executivas no cérebro e como trabalham elas trabalham, para entender como se dá esse processo complexo na busca de novos caminhos neurais, podendo auxiliar com estímulos corretos e eficientes os indivíduos que possuem defasagens de ordem executiva.
Dessa forma, esse profissional estará não só dando suporte cognitivo para a aquisição de conhecimentos escolares ao sujeito, como também para a formação de um controle emocional mais saudável, que auxilie na construção de habilidades sociais maduras, de respeito ao próximo e maturidade para lidar com frustrações, tornando-se um adulto mais preparado para agir frente aos desafios da vida.
REFERÊNCIAS
RUSSO, Rita Margarida Toler.Neuropsicopedagogia clínica: introdução, conceitos, teoria e prática. Curitiba: Juruá, 2015.
Curso de Pós-Graduação de Neuropsicopedagogia Clínica - CENSUPEG. E-mail: ludiov@yahoo.com.br