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Channel: Neuropsicopedagogia na sala de aula
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Cérebro de criança também necessita de estímulos nas férias...

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Ana Lúcia Hennemann*

     No final do ano vem aquela fase do cansaço onde os alunos pedem férias e os professores também precisam deste merecido descanso. Sair com amigos, viajar, passar horas jogando videogame, navegando na internet, assistir filmes, brincando a vontade ou quem sabe simples passeios são atividades que revigoram nosso organismo e nos fazem enfrentar um novo ano letivo com muita disposição.
   Porém, crianças que tiveram dificuldades acadêmicas no ano anterior, ficar totalmente longe de atividades que estimulem o raciocínio lógico, a leitura ou a escrita, faz com que alguns possam esquecer aprendizagens importantes. Por exemplo: uma criança que no final do ano adquiriu a habilidade de leitura, mas durante as férias não exercitou a mesma. Certamente, ao retornar para escola será necessário estimular todas estas habilidades novamente e faz com que a criança apresente dificuldades em relação aos demais colegas.
  De acordo com Guerra (2011, p.134) “alguém aprende quando adquire competência para resolver problemas e realizar tarefas, utilizando-se de atitudes, habilidades e conhecimentos que foram adquiridos ao longo de um processo de ensino-aprendizagem.” Nesse sentido, se o indivíduo ainda não demonstrou facilidade para demonstrar determinados aprendizados é porque ele ainda não o tem consolidado, se faz necessário continuar investindo em atividades que auxiliem naquela aprendizagem.
  Cada escola no início do ano letivo destina um período para relembrar o que aprenderam no ano anterior, lógico que este período é destinado a auxiliar todas as crianças, mas quando o indivíduo também é estimulado de formas prazerosas nas férias, estará fortificando as conexões das aprendizagens anteriores. É visível o desempenho daqueles indivíduos que receberam estímulos durante este período, pois apresentam mais facilidade para a aprendizagem.
  Por isso, sugere-se aos pais e ou familiares que neste período, além de atividades voltadas ao lazer e ao bem estar, também proporcionem pequenos períodos de simples “tarefas” ou brincadeiras que auxiliem na aprendizagem.
   Por exemplo, para estimular a  leitura/escrita:
- Peça auxilio para fazer a lista do supermercado;
- Ler o rótulo de algum produto;
-  Leitura de  livros ou quem sabe 1 capítulo do mesmo.
- Que tal registrar as atividades realizadas no dia, talvez montar um arquivo no computador destinado a estas anotações diárias ou então ter um caderno/agenda destinado para isso;
- Revistas de Caça Palavras são excelentes alternativas...



Para estimular a matemática e de forma bem divertida há atividades e jogos tais como:
-  Can-Can,  Ludo,  Sudoku, entre outros

 


    Para estimular a socialização, criatividade...
- Que tal ir ao teatro? Ou fazer fantoches e brincar em casa? Bonecos de sombra são atividades diferenciadas e podem estimular e muito a criança. Projeção de luz, cores diferenciadas...





   Para crianças que gostam de navegar na internet, há uma grande variedade de sites.  Nestes abaixo há excelentes atividades...










Fonte Bibliográfica:
COSENZA, Ramon. GUERRA, Leonor. Neurociência e Educação– Porto Alegre: Artmed, 2011.


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* Especialista em Alfabetização/ Educação Inclusiva/ Neuropsicopedagogia.
   Pós-graduanda em Neuroaprendizagem/ Professora em cursos de pós-graduação nas disciplinas voltados às  Neurociências, Neuropsicopedagogia, Educação Inclusiva, Alfabetização.

Alguém pode estar manipulando você...

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Ana Lúcia Hennemann*
“Os truques de mágica funcionam porque os seres humanos têm um processo estruturado de atenção e consciência que pode ser invadido e alterado.”
 Macknik e Martinez-Conde

     Assim como a música, a pintura, a poesia, o teatro, também a magia é uma arte de encantar. Não importa a idade, o fato é que ela nos ilude e o fascínio disso encanta, principalmente quando o truque é feito com maestria. O mágico, sorridente e encantador gesticula dando a impressão de um simples movimento, mas não, sabiamente o gesto inocente foi utilizado para distrair e direcionar a atenção do público para aquilo que deseja enfatizar.
    Mágica tem muita semelhança com a neurociência cognitiva, ou seja, ambas estudam o comportamento humano – suas experiências, consciência e expectativas. Entretanto, na mágica há uma sequência de atos bem planejados, ensaiados milhares de vezes e intencionais. Durante uma única apresentação informações inverídicas são “implantadas” nos cérebros dos espectadores, porém a credibilidade naquilo que se vê e toda a carga emocional recebida no momento, faz com que detalhes minuciosos passem despercebidos.
   Os mágicos utilizam-se de um mecanismo chamado atenção seletiva. Por exemplo, quanto mais focamos nossa atenção para determinado estímulo, maior a probabilidade de desconsiderar o que ocorre a nossa volta. E a maioria dos truques faz com que o indivíduo foque sua atenção, e aí vem a perspicácia e agilidade do mágico, porque geralmente eles apresentam um truque inicial dando a entender que o mesmo não funcionou, e no que a pessoa relaxa, aí a verdadeira mágica acontece. Ou então, utilizam-se de estratégias que façam as pessoas rirem, e é difícil pensar criticamente quando se está rindo.

    Mágicos são manipuladores de atenção e não de olhares das pessoas, pois vemos a mágica acontecer, mas não percebemos todos os detalhes que estão ocorrendo junto com a mesma. Quanto mais um indivíduo procura atentar para alguma coisa mais ele a acentua e mais elimina as informações circundantes.
    Quando pensamos em tomada de decisões, acentuar ou eliminar informações fazem muita diferença, pois conforme os neurocientistas Macknik e Martinez-Conde (2011, p 96) “no dia a dia mesmo quando a pessoa se concentra em realizar um trabalho crucial, ela ainda precisa se lembrar de dar uma olhadela em volta de vez em quando para não correr o risco de deixar passar fatos importantes e oportunidades potenciais.”  Um exemplo disso é quando o indivíduo tem algo a resolver, mantém o foco naquilo, mas parece difícil encontrar a solução. No momento que “desligou”, relaxou, aí a resposta aparece.
   Um teste muito conhecido desenvolvido pelo psicólogo e pesquisador Daniel J. Simons é aquele onde jogadores estão driblando e passando entre si uma bola de basquete. A tarefa é contar durante 60 segundos o número de vezes que cada jogador faz um passe. Enquanto permanecemos concentrados e focando na bola e na quantidade de passes, alguém vestido de gorila caminha entre os jogadores, vira o rosto para os espectadores, bate no peito e vai embora. E muitos não conseguem perceber o gorila.
   Há também um outro fator interessante, quando vamos ao show de mágica, estamos cientes que se trata de um espetáculo, de que alguém durante um determinado período irá se utilizar de todos seus conhecimentos e habilidades para fazer o inacreditável acontecer...no entanto, no dia a dia, somos vulneráveis a muitas manipulações de atenção seletiva, e nem sempre o percebemos...

Fontes Bibliográficas:

GRAVENOR, Misha. Mágica a truques que iludem o cérebro.http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/magica_e_truques_que_iludem_o_cerebro.html
JOU, Gaziela. Atenção seletiva: Um estudo sobre cegueira por desatenção. http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0305.pdf
MACKNIK, Stephen. MARTINEZ-CONDE, Suzana. Truques da mente: o que a mágica revela sobre o nosso cérebro. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.


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* Especialista em Alfabetização/ Educação Inclusiva/ Neuropsicopedagogia.
   Pós-graduanda em Neuroaprendizagem/ Professora em cursos de pós-graduação nas disciplinas voltados às  Neurociências, Neuropsicopedagogia, Educação Inclusiva, Alfabetização.

Um simples desafio

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 A resposta do desafio é simples... O círculo azul vai logo após o círculo rosa e o marrom sobre o círculo azul claro. Na hora da contagem há 6 círculos em cada fileira...

Empatia

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Ana Lúcia Hennemann*

O menino recém havia completado 2 anos de idade. A festa de seu aniversário lhe rendeu alguns brinquedos interessantes. Um deles era um jogo de encaixe repleto de blocos coloridos, e eis que numa tarde qualquer montava-o no tapete da sala com a mãe sentada ao lado observando aquelas mãozinhas pouco habilidosas tentando encaixar as peças.
O filho estava crescendo rapidamente e devido a fatores como emprego, ritmo acelerado de vida, quase nem conseguia acompanhar as mudanças.
Vagando em seus pensamentos quase nem percebeu a interrupção da criança mostrando a montagem que havia realizado: - Tá bonito mamãe?
E ela num meigo sorriso, responde:
- Sim filho. Hummmmm estou até com ciúmes deste jogo, você nem dá mais bola para mim...
Neste instante pega o celular e começa a visualizar as mensagens recebidas.
 A criança silenciosamente levanta-se e dirige-se a outro local da casa. Segundos depois, volta e diz: - Tá mamãe!
E com os braços estendidos, e o sentido de dever cumprido,  entrega a bola para a mesma.

       Perceber nossos próprios sentimentos não é tarefa fácil, mas é fruto de uma construção que inicia na relação mãe/filho (pais/filhos, cuidadores/ crianças). A interação com os outros nos proporciona a autodescoberta, bem como a autoconsciência de nossos atos e sentimentos. No exemplo acima a mãe utilizou-se de uma metáfora para externar aquilo que sentia, entretanto a criança não conseguiu entender a metáfora utilizada, mas já traz dentro de si todos os neurônios que lhe possibilitem sentir a empatia.
      Empatia não se resume apenas a responder com sorrisos a quem nos sorri ou ficar comovido quando alguém chora. Ela envolve conhecimento de si e do outro, trata-se de entender o sentimento dos demais, colocar-se no lugar dos mesmos. Herculano-Houzel nos diz que empatia é a capacidade de "sofrer junto", ou seja, de sentir, ou ao menos intuir, o que o outro sente.
      Se uma criança de 2 anos percebe sua mãe chorando ela pode oferecer-lhe algum brinquedo ou até mesmo algum alimento que esteja comendo como forma de ver a mesma se sentir melhor, pois geralmente, são estes os atos que ela recebe do adulto quando a mesma está chorando.
      "Aos 3 anos, as crianças percebem que, se alguém consegue o que quer, fica feliz e, se não consegue, fica triste (Wellman e Woolley, 1990)."
       Porém, por volta dos 4 anos de idade ela já adquiriu mais vivencias em relação às suas emoções e as dos demais indivíduos a sua volta. Por exemplo, se alguém diz que sente dor em determinado local a criança já tenta confortar a pessoa, pois a dor do outro pode lhe parecer desconfortável.
      Todo ser humano nasce com neurônios-espelho, ou seja, neurônios que tem como função a capacidade de imitar gestos e atitudes dos demais seres humanos. Os neurônios-espelho (localizados no lobo frontal) conforme o neurocientista Ramachandran podem fornecer a base da empatia, do autoconhecimento, da autoconsciência. Alfred Adler, psicólogo austríaco, há décadas afirmou que a empatia deve ser estimulada em crianças pelos pais e demais cuidadores ou permanecerá enfraquecida.
       A maneira como os pais/cuidadores tratam a criança é o modo como ela vai aprendendo a ter empatia. Crianças que crescem em ambientes onde dizem o que querem ofendendo as pessoas ou apresentam atitudes de agressão física (um simples tapa que for) e a família se mantém omissa, afinal: - Meu filho tem personalidade! Ele é assim! - estão sendo ensinadas a serem insensíveis aos sentimentos alheios.  
.   O dever dos pais/cuidadores sempre é dialogar sobre as situações, fazer a criança entender que tudo há consequências. Não importa a idade da criança, o diferencial é os pais a ensinarem como lidar com as situações, pois dessa forma estão oportunizando o fortalecimento da empatia e automaticamente ensinado seus filhos lições de gestão emocional, instrumentalizando-os para uma melhor convivência em sociedade e quem sabe a conquista de melhores empregos, pois num mundo em que cada vez mais as pessoas estão conectadas em máquinas e menos em gente (Gardner), um simples sorriso poderá fazer toda a diferença.  

Referências Bibliográficas:
FIORE-CORREIA, Olívia. LAMPREIA, Carolina. SOLLERO-DE-CAMPOS, Flávia. As falhas na emergência da autoconsciência na criança autista. Disponível online em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-56652010000100007&script=sci_arttext

HERCULANO-HOUZEL, Suzana. Vida em Sociedade. Disponível online em: http://www.cerebronosso.bio.br/vida-em-sociedade/
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* Especialista em Alfabetização/ Educação Inclusiva/ Neuropsicopedagogia.
   Pós-graduanda em Neuroaprendizagem/ Professora em cursos de pós-graduação nas disciplinas voltados às  Neurociências, Neuropsicopedagogia, Educação Inclusiva, Alfabetização.

Neurônios Espelho – Aprendizagem por observação/imitação

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Ana Lúcia Hennemann*

Frequentemente algumas crianças vinham brincar com João. Entre uma brincadeira e outra corriam até um pequeno cercado na porta e chamavam o cachorro até ele.
Era um dogue alemãoenorme, mas muito manso, porém cada vez que o cão chegava perto do cercado, as crianças saiam em disparada, rindo e procurando ficar longe do campo de visão do mesmo.
Sentado no carrinho, o irmãozinho de João observa tudo, cada detalhe, a ida das crianças até o cercado, as provocações, o cachorro vindo, e elas correndo sorrindo. Ele tinha apenas 8 meses, mas acompanhava tudo com olhares e movimentos com os pés como se estivesse a correr junto com as crianças.
Foram alguns meses apenas de observação, mas assim que começou a caminhar foi até a porta, tentou expressar algo como se estivesse a chamar o cachorro e saiu correndo, meio que cambaleando, mas feliz pelo feito realizado com tantos meses de espera...

     A criança descrita no texto, após longo período observando as demais interagirem conseguiu um dia imitá-las, ou seja, ela teve uma aprendizagem por observação.
      O psicólogo canadense, Albert Bandura (1925-1988) realizou experiências onde crianças assistiam vídeos de adultos agredindo um boneco “João Bobo”, e em seguida eram colocadas numa sala com alguns brinquedos e também o referido boneco. Constatou-se que 90% das crianças apresentavam as mesmas atitudes do adulto em relação ao tal boneco, confirmando assim, que a experiência de outros podem conduzir à aquisição de novos comportamentos.
    Para Bandura, a aprendizagem por observação, ou aprendizagem social, ocorre pela observação dos comportamentos daqueles com quem convivemos (pais, irmãos, amigos, professores). Bandura designa por modelação ou modelagem o processo de aprendizagem social feito com base na observação e imitação sociais.
     Em meados de 1990, na Universidade de Parma, Giacomo Rizzolati e seus colaboradores, descobriram neurônios no cérebro que são responsáveis por esta aprendizagem por imitação, os neurônios-espelho. As pessoas, crianças e até mesmo animais podem aprender observando e imitando os outros.

   Entretanto, aprendemos não somente com aqueles que estão presencialmente, podemos aprender virtualmente também, um exemplo disso é a tal “Galinha Pintadinha” que serve de babás para muitas crianças. Também há o enorme repertório de filmes, novelas e comerciais que estão a modular muitos neurônios-espelho por aí.
     Na questão da aprendizagem escolar, o quanto é importante o professor entender o impacto da aprendizagem por observação. Seja pelo seu modo de atuar em sala de aula, seja pelo entendimento de que alunos também aprendem com alunos. Por exemplo, há salas de aula onde indivíduos passam o ano e anos sentados com os mesmos colegas, repetem os mesmos padrões de comportamento, deixam de aprender e deixam de ensinar aos demais. O famoso espelho de classe é uma ferramenta essencial, pois oportuniza que alunos aprendam a observar diferentes colegas e ampliarem sua capacidade de aprendizagem.
    Mas, pensando neste mundo cada vez mais tecnológico, pais queixando-se que seus filhos vivem conectados, professores preocupados com a defasagem da leitura e escrita e os neurônios-espelho nos evidenciando que aprendemos por imitação, quem sabe devemos parar de reclamar e tornar nossas ações mais visíveis para que possam ser imitadas. Quem sabe 20 minutos de leitura juntamente com os filhos ou alunos faria um grande diferencial.


Referência Bibliográfica:
BANDURA, Alfred. AZZI, Roberta. POLYDORO, Soely. Teoria Social Cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008.
LA ROSA, Jorge. Psicologia e educação: o significado do aprender. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
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* Especialista em Alfabetização/ Educação Inclusiva/ Neuropsicopedagogia.
   Pós-graduanda em Neuroaprendizagem/ Professora em cursos de pós-graduação nas disciplinas voltados às  Neurociências, Neuropsicopedagogia, Educação Inclusiva, Alfabetização.

Uma orquestra dentro de seu cérebro

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Ana Lúcia Hennemann*

As crianças brincavam na pracinha, o local era cheio de árvores e numa das laterais havia um enorme muro.
Duas turmas dividiam o espaço, uma com crianças entre 3-4 anos e outra com 4-5 anos de idade. Os meninos começaram a brincar de cientistas, juntaram alguns gravetos  e começaram suas pesquisas. Acompanhavam o trajeto feito por formigas e quando uma delas entrava em qualquer buraco eles usavam "suas ferramentas" para exploravam o esconderijo. A professora ouviu e olhou de relance quando o menino falou:
- Os inimigos estão mortos.
Na ponta do graveto uma abelha espetada e rapidamente o ambiente foi se transformando numa nuvem negra de insetos saindo por uma fenda do muro. Era um enorme enxame de abelhas.
Em fração de segundos a professora viu um filme passar por seus pensamentos, não podia ficar ali, pois uma simples picada poderia ser a porta de entrada para um hospital e na rapidez de tentar se salvar, saiu correndo gritando para que todas crianças corressem também.
Longe do perigo, há alguns metros de distância, iniciou a contagem de quantos ali estavam, mas nisso voltou seus olhos para a nuvem preta e percebeu sua colega tentando salvar as crianças que ficaram se debatendo como tentativa de se livrar das abelhas.
Novamente a fração de segundos veio à mente, alergia a picada, dor intensa, inchaço, náuseas, mas era preciso ajudar, como pode ter sido tão egoísta e foi assim que enfrentou seu medo e voltou para o ambiente nada convidativo.  

     Durante milhares de anos nosso cérebro mantém a função primordial de cuidar do nosso bem estar e nossa sobrevivência. Qualquer sinal de perigo faz com que tomamos ações imediatas, muitas vezes impensadas, que podem tanto manter nossa sobrevivência quanto causar a morte. Por exemplo: “O sujeito era muito calmo, nunca reagiu a nada, mas levou um tiro por ter atacado o assaltante”.  E mesmo sem entendermos, foi apenas o instinto de sobrevivência falando mais alto, que em situações estressantes podem tanto paralisar um indivíduo quanto fazê-lo ter reações agressivas, ou seja, fuga ou luta.   
      Nosso cérebro possui uma região chamada neocórtex que nos faz raciocinar, prever situações, analisar o ambiente e a partir daí tomar decisões mais sensatas. É essa região que nos diferencia dos demais animais, pois somos os únicos capazes de antecipar o futuro e pensar em possíveis estratégias a serem realizadas.  Entretanto, quando se trata de emoções e situações que exigem tomadas de decisões bruscas, será que é esta a região que comanda nosso cérebro?
     O neurofisiologista Paul MacLean, em 1990, propôs a teoria do “Cérebro Triúno” ou “Cérebro Trino”, na qual teríamos três cérebros: reptiliano, límbico, neocórtex.
Réptil– onde se manifestam nossos comportamentos de autopreservação: alimentação, agressão e fuga, território e sexualidade;
Mamífero ou Límbico– apresentando os instintos de “rebanho’, cuidados com a prole e hierarquias sociais
Neocórtex- processamento da linguagem simbólica, das abstrações, da lógica.
Conforme esta teoria, grande parte dos humanos em situações de emergência estariam expressando ações mais voltadas ao cérebro réptil e mamífero.

     Dalgalarrondo (2010, p 21), mencionando sobre a evolução do cérebro, enfatiza que essa visão não é mais aceita nos dias atuais, pois a evolução não ocorre de modo linear, mas em ramificações arbóreas, e cada ramo segue seu próprio caminho evolutivo.
    Nesta concepção, há a Teoria do Sistema Funcional, desenvolvida pelo neuropsicólogos russo Aleksandr Romanovick Luria, considerado o principal destaque da Neuropsicologia. Para Luria há em nosso cérebro 3 unidades funcionais, mas que trabalham de modo integral:
Primeira Unidade funcional– Não recebe nenhuma informação externa, sua única atividade é regular o estado do funcionamento do córtex e o nível de vigilância, controlando o tônus, a vigília e os estados mentais do indivíduo, porém, é uma unidade extremamente importante porque o funcionamento cortical é essencial para a sobrevivência do indivíduo e para a execução das outras funções superiores.
Segunda Unidade Funcional - responsável pela recepção, análise e pelo armazenamento das informações. É uma das unidades mais importantes e que compõe grande parte do funcionamento neurológico. O cérebro, ao receber as informações provindas tanto do meio externo quanto do próprio organismo precisa processá-las (interpretá-las) e quando entende que estas informações são muito importantes passa a armazená-las no que pode ser comumente chamado de memória.
Terceira Unidade Funcional - é a região responsável pela programação, regulação e verificação da atividade consciente do homem.

       Para Luria, nosso cérebro ao executar qualquer ação, qualquer atividade ele não envolve apenas uma região cerebral, mas várias. Luria comparou nosso cérebro ao funcionamento de uma orquestra, ou seja,  para que trabalhe com harmonia precisa ter seus instrumentos afinados e trabalhando de forma integrada. Explica que cada área da orquestra é importante e interdependente, mas que precisam das outras áreas funcionando conjuntamente para que seja tocada uma boa música.
    Quando temos esse entendimento de que nosso cérebro trabalha em unidade, entendemos o quanto é importante praticarmos atividades que visem o nosso bem estar, não somente mental, mas físico também, pois frequentemente somos expostos a muitas situações e muitas delas requerem tomadas de decisões rápidas e somente quando estamos em harmonia é que podemos ter atitudes e/ou ações mais inteligentes. Se a função de nosso cérebro é manter nosso bem estar e sobrevivência, que ele o faça de modo assertivo.

Referência Bibliográfica:
ANDRADE, M.V., SANTOS, F.R., BRUNO, O.F.A. Neuropsicologia Hoje. São Paulo: Editora Artes Médicas, 2004.
DALGALARRONDO, Paulo. Evolução do cérebro: sistema nervoso, psicologia e psicopatologia sob a perspectiva evolucionista. Porto Alegre: Artmed, 2011.
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* Especialista em Alfabetização/ Educação Inclusiva/Neuropsicopedagogia.
   Pós-graduanda em Neuroaprendizagem/ Professora em cursos de pós-graduação nas disciplinas voltados às  Neurociências, Neuropsicopedagogia, Educação Inclusiva, Alfabetização.

TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

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Ana Lúcia Hennemann*

O sinal anunciava o início da aula, as crianças já se encontravam na fila. Alguns pais acompanhavam apreensivos a entrada das crianças à sala de aula, observavam o menino num estado de euforia pulando sobre os ombros dos colegas, quase os derrubando. Apresentava uma fala ligeira e cheia de gestos, entretanto não tinha noção espacial de seu corpo e não percebia quando a extensão de seu braço atingia o corpo dos demais.  
Na sala de aula, mostrava-se inquieto, o espaço da mesma era pequeno demais para ele, não conseguia organizar-se, o lápis com frequência caia no chão, o caderno incompleto cheio de dobras nas pontas, a borracha num instante se transformava num carrinho.
Na mochila, além de todos os pertences escolares também estavam vários brinquedos, que constantemente insistia em pegá-los durante a execução de tarefas escolares.
O conteúdo da aula era deixado de lado por qualquer motivo.  
Cadeira, pra que serve mesmo? aquele corpinho inquieto mal conseguia permanecer 15 minutos sentado. Porém o problema é que sua inquietação tirava a concentração dos demais...hora de chamar a família...
Na fala entristecida o histórico de pais que já conheciam todo o repertório do diálogo proposto, já não era a primeira escola pela qual passavam, a inquietação do filho, a falta de atenção nas atividades, as brincadeiras constantes, a dificuldade de cumprir regras, a desatenção...
Em casa também vivenciavam as mesmas situações, mas mencionaram que não entendiam, pois a criança era tão inteligente e conseguia passar muito tempo concentrado no computador...

    Existem muitos mitosem torno do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), mas este é distúrbio neurobiológico crônico que afeta de 3% a 5% das crianças em idade escolar e sua prevalência é maior entre os meninos. Esses sinais devem obrigatoriamente manifestar-se na infância, mas podem perdurar por toda a vida, se não forem devidamente reconhecidos e tratados. Os sintomas incluem dificuldade em se concentrar e prestar atenção além da dificuldade em controlar o comportamento.
    Segundo  Leonardi, Rubano e Assis (2010, p.114), estudos de neuroimagem e de neurobiologia mostraram que crianças com TDAH possuem volumes cerebrais quase 3% menores que o restante da população e assimetrias no córtex pré-frontal, estriado e cerebelo, além de alterações no funcionamento de alguns neurotransmissores, em especial dopamina e noradrenalina.
   Nesse sentido, o TDAH não acontece devido a fatores culturais ou conflitos psicológicos, mas por apresentar alterações na região frontal do cérebro, responsável pela inibição do comportamento e do controle da atenção.
    De acordo com o Manual de Classificação das Doenças Mentais – DSM-V, o TDAH é considerado um Transtorno do Neurodesenvolvimento apresentando as seguintes características:
Desatenção: falta de atenção para detalhes, cometem erros por omissão, as tarefas são realizadas sem o devido cuidado e meticulosidade, dificuldade para manter a atenção, dificuldade para persistir e terminar as tarefas, parece estar com a cabeça “em outro lugar”.
Hiperatividade: inquietação, não consegue permanecer quieto ou sentado por muito tempo e quando deveria; apresenta dificuldade em realizar tarefas de lazer em silêncio; demonstra estar “a todo vapor”.
Impulsividade: impaciência, não espera sua vez, responde antes da pergunta ser finalizada, interrompe conversas alheias.
 Os critérios para o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) são
Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários.
A
1)Desatenção: (Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção (duração mínima de 6 meses)
a) Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades (p. ex, negligencia ou deixa passar detalhes, o trabalho é impreciso).
b) Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (p. ex, dificuldade de manter o foco durante aulas, conversas ou leituras prolongadas).
c) Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente (p. ex, parece estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia).
d) Frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho (p. ex, começa as tarefas, mas rapidamente perde o foco e facilmente perde o rumo).
e) Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades (p. ex, dificuldade em gerenciar tarefas sequenciais; dificuldade em manter materiais e objetos pessoais em ordem; trabalho desorganizado e desleixado; mau gerenciamento do tempo; dificuldade em cumprir prazos).
f ) Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (p. ex, trabalhos escolares ou lições de casa; para adolescentes mais velhos e adultos, preparo de relatórios, preenchimento de formulários, revisão de trabalhos longos).
g) Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (p. ex, materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos, celular).

2) Hiperatividade e Impulsividade:
Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade (duração mínima de 6 meses)

a) Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira;
b) Frequentemente levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado (p. ex, sai do seu lugar em sala de aula, no escritório ou em outro lugar de trabalho ou em outras situações que exijam que se permaneça em um mesmo lugar).
 c) Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado. Nota: Em adolescentes ou adultos, pode se limitar a sensações de inquietude).
 d) Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente
e) Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado” (p. ex, não consegue ou se sente desconfortável em ficar parado por muito tempo, como em restaurantes, reuniões, outros podem ver o indivíduo como inquieto ou difícil de acompanhar.

Impulsividade (duração mínima de 6 meses)
 f) Frequentemente fala demais.
g) Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída (p. ex, termina frases dos outros, não consegue aguardar a vez de falar).
h) Frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez (p. ex, aguardar em uma fila)
i) Frequentemente interrompe ou se intromete (p. ex, mete-se nas conversas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão; para adolescentes ou adultos, pode intrometer-se em ou assumir o controle sobre o que os outros estão fazendo.
B
Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estavam presentes antes dos 12 anos de idade
C
Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estão presentes em dois ou mais ambientes (p. ex, em casa, na escola, no trabalho; com amigos ou parentes; em outras atividades).
D
Há evidências claras de que os sintomas interferem no funcionamento social, acadêmico ou profissional ou de que reduzem a sua qualidade.

E
Os sintomas não ocorrem durante o curso de esquizofrenia ou outro transtorno psicótico e não são mais bem explicados por outro transtorno mental (p. ex, transtorno do humor, transtorno de ansiedade, transtorno dissociativo, transtorno da personalidade, intoxicação ou abuso de substâncias). 


TEIXEIRA (2010, p 65 - 67) elenca algumas atitudes que o indivíduo com TDAH pode manifestar na escola:
®Deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades.
®Tem dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas.
® Parece não escutar quando lhe dirigem a palavra.
®Não segue instruções e não termina seus deveres escolares.
®Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades.
®Evita, antipatiza ou reluta em envolver-se em atividades que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa).
®Perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por exemplo: brinquedos, lápis, livros, etc.).
®É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa.
®Apresenta esquecimento em atividades diárias.
®Agita as mãos ou pés, ou se remexe na cadeira.
®Abandona sua cadeira em sala de aula ou em outras situações nas quais se espera que permaneça sentado.
®Corre ou escala em demasia, em situações nas quais fazer isso é inapropriado (em adolescentes e adultos pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação).
®Tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer.
®Fica a “mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo vapor”.
®Fala muito.
®Dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas.
®Tem dificuldade para aguardar a vez.
®Interrompe ou se mete em assuntos dos outros (por exemplo: intromete-se em conversas ou brincadeiras).

Visando o melhor desempenho destes alunos em sala de aula, sugere-se que os professores:
ïOrganizem as mesas em círculos, ou em forma de U, ao invés de fileiras: facilita o contato e particularmente o “olho no olho” com os demais colegas da classe;
ï Ensinem técnicas de organização e de estudo;
ïEstimulem e reforcem positivamente atitudes assertivas através de elogios;
ïProporcionem atividades que contemplem as inteligências múltiplas.

Fonte: G1


Para maior entendimento , assista ao vídeo do Psicólogo Thales Vianna Coutinho: 




Referência Bibliográfica:

COUTINHO, Thales. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Youtube Canal TVCChanelNews
LEONARDI, Jan. RUBANO, Denize. ASSIS, Fátima. Subsídios da Análise do Comportamento para Avaliação de Diagnóstico e Tratamento do Transtorno do déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). In.: Medicalização de crianças e adolescentes: conflitos silenciados pela redução de questões sociais a doença de indivíduos. CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.
SOUZA, Felipe. Transtornos do Neurodesenvolvimento.Disponível online em: http://pt.slideshare.net/FelipedeSouza10/curso-dsm-5-transtornos-do-neurodesenvolvimento
TEIXEIRA, Gustavo. Manual dos Transtornos Escolares:entendendo os problemas de crianças e adolescentes na escola. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.
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* Especialista em Alfabetização/ Educação Inclusiva/ Neuropsicopedagogia.
   Pós-graduanda em Neuroaprendizagem/ Professora em cursos de pós-graduação nas disciplinas voltados às  Neurociências, Neuropsicopedagogia, Educação Inclusiva, Alfabetização.

Transtorno de Conduta

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Ana Lúcia Hennemann*

Fato 1:
O garoto de 8 anos colocou o caderno fechado embaixo da mesa, a professora parou ao seu lado e questionou: - Terminou!
E ele com um sorriso no canto da boca responde: - Sim, prontinho! E desviando o olhar pôs-se a procurar algo em seu estojo.
- Por favor, posso dar uma olhada em seu caderno? - perguntou a professora. Olhando-a fixamente e esboçando outro sorriso, o garoto lhe entrega o mesmo.
Apenas a data do dia constava ali e quando questionado sobre o restante da atividade, ele calmamente folheia as páginas do mesmo e menciona que não sabe o que aconteceu, pois tinha certeza que havia copiado.
Fato 2:
Naquele dia tirou o lápis da mão da colega, quebrou-o e jogou longe.  Os diálogos não estavam funcionando, a cena já estava se repetindo. A professora solicitou a agenda, escreveu um recado aos pais. O término da aula chegou, ela viu quando ele rasgou a página da agenda e colocou embaixo da mesa, então calmamente o questionou: - Lembrou de pegar todos os teus pertences? Olhaste embaixo da mesa?
- Tudo que preciso está na mochila professora!
Fato 3:
Todos estavam posicionados olhando para a porta, a qualquer momento a aniversariante entraria... 3, 2, 1 começou o canto de parabéns. Era um dia de festa, eis que em determinado momento uma das crianças que não falava (mutismo seletivo) sai da sala correndo e chorando. Inúmeras perguntas foram feitas para que se tentasse entender o que havia acontecido. Nas costas, a marca de um soco que alguém lhe dera durante aquele momento em que todos cantavam.
O suposto suspeito mostrava-se desolado e comentava com os demais colegas: - Quem pode ter tido a coragem de fazer isso com aquele coitadinho?

    O Transtorno de Conduta classificado como um dos Transtornos Disruptivos, do controle de impulsos e da conduta, pode ter seu início na infância. Pequenos atos que evidenciam falta de sentimentos ao sofrimento alheio, demonstrações de agressividade física para com os outros ou mesmo torturas praticadas com animais, denotam um olhar mais atento do adulto em relação às atitudes da criança. Conforme DSM-V algumas características deste transtorno aparecem antes de 10 anos e geralmente são meninos.
   Conforme Burke (et al, 2002) é um padrão comportamental repetitivo e persistente no qual são violados direitos básicos de outras pessoas ou normas ou regaras sociais relevantes e apropriadas para a idade, podem implicar uma conduta agressiva de ferir ou ameaçar outras pessoas ou animais, desonestidade ou violações graves de regras.
Indivíduos com o transtorno de conduta apresentam:
- Ausência de remorso ou culpa: não se sentem mal quando fazem algo errado e nem se preocupam quanto às consequências negativas de suas ações.
- Insensibilidade – falta de empatia: ignora e não está preocupado com os sentimentos de outras pessoas.
- Despreocupação com o desempenho: não se preocupa com o desempenho escolar, com o trabalho ou outras atividades importantes. Geralmente culpa os outros pelas situações.
- Afeto superficial ou deficiente: não expressam sentimentos e nem demonstram emoções para os outros, a não ser de uma maneira que parece superficial, insincera ou rasa (ex. as ações contradizem a emoção demonstrada; pode “ligar” ou “desligar” emoções rapidamente) ou quando as expressões emocionais são usadas para obter algum ganho (ex. emoções com a finalidade de manipular ou intimidar outras pessoas).
    O DSM-V apresenta os seguintes critérios para o diagnóstico de transtorno de Conduta:
Um padrão de comportamento repetitivo e persistente no qual são violados direitos básicos de outras pessoas ou normas ou regras sociais relevantes e apropriadas para idade
- presença de ao menos 3 dos 15 critérios seguintes, nos últimos 12 meses, mas com ao menos 1 critério presente nos últimos 6 meses.
A
-Agressão a Pessoas e Animais
1) Frequentemente provoca, ameaça ou intimida outros.
2) Frequentemente inicia brigas físicas.
3) Usou alguma arma que pode causar danos físicos graves a outros (ex. bastão, tijolo, garrafa quebrada, faca, arama de fogo)
4) Foi fisicamente cruel com as pessoas.
5) Foi fisicamente cruel com animais.
6) Roubou durante o confronto com uma vítima (ex. assalto, roubo de bolsa, extorsão, roubo à mão armada)
7) Forçou alguém a atividade sexual.

- Destruição de propriedade
8) Envolveu-se deliberadamente na provocação de incêndios com a intenção de causar danos graves.
9) Destruiu deliberadamente propriedade de outras pessoas (excluindo provocação de incêndios)

-Falsidade ou Furto
10) Invadiu a casa, o edifício ou o carro de outra pessoa.
11) Frequentemente mente para obter bens materiais ou favores ou para evitar obrigações (“trapaceia”)
12) Furtou itens de valores consideráveis sem confrontar a vítima (ex: furto em lojas, mas sem invadir ou forçar a entrada; falsificação)

- Violações Graves de Regras
13) Frequentemente fica fora de casa à noite, apesar da proibição dos pais, com início antes dos 13 anos de idade.
14) Fugiu de casa, passando a noite fora, pelo menos duas vezes enquanto morando com os pais ou em lar substituto, ou uma vez sem retornar por um longo período.
15) Com frequência falta às aulas, com ínicio antes dos 13 anos de idade
B
A perturbação comportamental causa prejuízos clinicamente significativos no funcionamento social, acadêmico ou profissional.
C
Se o indivíduo tem 18 anos ou mais, os critérios para transtornos de personalidade antissocial não são preenchidos

   Conforme Teixeira (2013, p.65) na escola essas são algumas ações perceptíveis do transtorno de conduta:

 Mentiras
 Agressões físicas
 “Matar aula”
 Destruição de carteiras
 Roubo de material escolar
 Agressividade e ameaças contra professores e alunos
 Hostilidade com colegas de turma
 Ausência de remorso
 Comportamento sádico
 Consumo de álcool e drogas
 Desempenho escolar fraco
 Isolamento social
 Prática de bullying

    Sugere-se que as famílias juntamente com a escola permaneçam atentos e utilizem-se de medidas socioeducativas, treinamento de habilidades sociais e técnicas cognitivo-comportamentais como forma de controlar a agressão, a modulação do comportamento social e o estímulo ao diálogo e melhoria de relacionamento.

Referência Bibliográfica:
APA. Referência Rápida aso Critérios Diagnósticos do DSM-V. Porto Alegre: Artmed, 2014
TEIXEIRA, Gustavo. Manual dos Transtornos Escolares:entendendo os problemas de crianças e adolescentes na escola. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.
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* Especialista em Alfabetização/ Educação Inclusiva/ Neuropsicopedagogia.
   Pós-graduanda em Neuroaprendizagem/ Professora em cursos de pós-graduação nas disciplinas voltados às  Neurociências, Neuropsicopedagogia, Educação Inclusiva, Alfabetização.


O surgimento da Neuroeducação

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Ana Lúcia Hennemann*
Nota: artigo publicado na Revista Meucerebro

 As práticas pedagógicas começaram a modificar-se com a Educação Inclusiva, sendo que esta trouxe novos desafios, novas formas de percepção do contexto educacional. Por isso, surge um diferencial na Educação: a Neuroeducação, a percepção do sujeito na sua individualidade e nesse sentido vamos refletir sobre o que precisa modificado, quais são os novos olhares que precisamos ter com este indivíduo que diariamente está dentro da sala de aula.
Um dos primeiros relatos que temos sobre a educação com um olhar mais global se dá se dá através das Paideias, na Grécia. As mesmas eram constituídas a partir da concepção de que a comunidade e o indivíduo são responsáveis uns pelos outros e dessa forma vão se transformando, integrando-se e evoluindo.  O indivíduo era percebido sobre seus diversos aspectos e fazia parte de uma cadeia social, cada um era importante. Cada um tinha contribuições para a evolução daquele contexto social.
Entretanto, as concepções mudaram e a educação “abandonou” a  percepção individual e integral do sujeito para um outro aspecto muito diferenciado, o indivíduo valia o quanto ele produzia, em outras palavras, o melhor aluno era aquele que conseguia acumular mais conhecimento. Mas até aqui a escola ainda não era para todos. Apenas alguns privilegiados estudavam.
Conforme Tracey Espinosa, mesmo tendo os direitos assegurados pela Declaração Universal do Direitos Humanos, é somente na década de 1980 que a educação em massa começa fazer parte do cenário educacional e através dessa maior diversidade que se percebe que o sistema educacional necessitava de muitas melhorias.
Todo o conhecimento que se tinha em educação, aprendizagem e comportamento humano, ainda era fruto de pesquisas anteriores ao escaneamento cerebral, e as grandes mudanças começam a ocorrer com o surgimento da Neurociência, que é responsável pelo estudo do sistema nervoso.
A Psicologia, uma das áreas que sempre auxiliou a educação, ao agregar conhecimentos da Neurociência começou a trazer abordagens diferenciadas para o contexto educacional e, dessa forma, a Pedagogia pautada na Educação e Aprendizagem percebeu que se faz necessário um novo olhar educacional, voltar às origens da Paideia e perceber o ser humano como um ser global. Todas as áreas que antes eram “especializadas em” modificam-se e começam a atuar de modo interdisciplinar agregando a nomenclatura de Neuroeducação.
A Neuroeducação não é uma nova área do conhecimento, trata-se da junção dos conhecimentos da Psicologia, Educação e Neurociência. (Figura 1).

A Neuroeducação nos traz uma abordagem diferenciada do que é aprendizagem. Anteriormente, numa visão mais direta poderia se dizer que: “Aprender é a aquisição de novos conhecimentos”. A mesma Neuroeducação nos mostra agora que “Aprender é modificar comportamentos”.
Quando pensamos numa educação inclusiva o significado de aprender dentro destas concepções tem um valor muito significativo. Porque se o sujeito é somente avaliado pelo viés do conhecimento adquirido dentro do contexto escolar certamente a educação não estará sendo inclusiva, mas se ela consegue perceber o educando como alguém que modificou seu comportamento inicial, seja ele, psicomotor, cognitivo ou emocional, desse modo sim, estamos diante de uma educação inclusiva, que prima pelos direitos humanos.
Percebemos indivíduos Downs atuando na sociedade, seja como repórteres, cineastas, professores, e demais profissões, temos entendimento do quão é importante a interação com o meio. Mais ainda, do quão é importante o trabalho de um profissional que tem o entendimento do funcionamento do sistema nervoso.
O neuroeducador, profissional da Neuroeducação, resgata a práxis das Paideias. Ele observa o indivíduo em seus aspectos que precisam ser melhorados e em  suas potencialidades e, através disso, constrói um planejamento individualizado para cada educando. Porém, todos aprendem, pois há modificação de comportamento tanto para o neuroeducador quanto para os educandos, ambos necessitam sair de suas zonas de conforto e dessa forma alcançar patamares mais elevados. Através disso resgata-se um valor primordial que os gregos já conheciam: a cooperação. A sociedade se constitui pelo entendimento da responsabilidade que temos uns com os outros e só podemos mudar a sociedade se mudarmos nossos comportamentos.

Referência Bibliográficas:

TOKUHAMA – ESPINOSA, Tracey. Why Mind, Brain, and Education Scienceis the "New" Brain-Based Education. Disponível online em http://migre.me/lXgK3

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Especialista em Alfabetização, Educação Inclusiva, Neuropsicopedagogia e Pós-graduanda em Neuroaprendizagem. E-mail: ana.hennemann@outlook.com

Percepção, atenção e observação...

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[...]por muito tempo, as pessoas não se davam conta do quanto não sabiam e quanto já sabiam.
 Hoje por sua vez, já sabem, o quanto não sabem, o que as deixam ansiosas.
Duringan e Moreno(2011)


Já reparou como muita informação circula dia a dia “bem na frente de nossos olhos” e se alguém perguntar o que aconteceu, nem sempre conseguimos ter um feedback do assunto... e fica aquela situação: onde é mesmo que vi isso...
Um dos grandes recursos que temos para armazenar  informações é relacioná-las com outras que possuem algo em comum, por isso na atividade proposta a figura nos arremete a pensar em números, números levam a cálculos, cálculos para serem realizados precisam seguir regras, estruturas lógicas e automaticamente ficamos tentando encontrar qual é a lógica para a resolução do fato.
No entanto a resposta não se encaixa a nenhuma equação matemática, trata-se apenas de nossa percepção...ou seja, que local que estes símbolos aparecem? Ao entrarmos dentro de um carro, bem na frente há a alavanca de câmbio (humm, tá certo, depende também do modelo de carro que a pessoa está habituado a usar...) e mesmo que no dia a dia estamos diante dessa informação nem sempre a percebemos, pois ela é apenas mais uma informação...

Willingham autor do livro Por que os alunos não gostam da escola? Menciona que informações podem ser registradas de maneiras diferentes em nossa memória. Por exemplo: pense numa nota de 10 reais, neste momento, sem olhar para a mesma, você conseguiria descrevê-la detalhadamente? O que você lembra? Do animal que está estampado na mesma? Da cor da nota? Do numeral ou da escrita do número... Muitos, nem sequer visualizaram nenhum detalhe da nota de R$ 10,00, apenas lembram dela como um valor simbólico, pois conforme o autor não podemos armazenar tudo em nossa memória, e talvez nem tenhamos a consciência de escolher o que será e o que não será guardado em nossa memória, pois  se não pensamos muito sobre alguma coisa, provavelmente não queremos pensar nela novamente, assim, não será armazenado. Se pensamos sobre algo, procuramos ter maior conhecimento sobre o assunto, nosso cérebro entende que talvez essa informação é importante e que de alguma forma iremos reutilizá-la no futuro. 

Neurociências e os 4 pilares da educação propostos para o século XXI

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Ana Lúcia Hennemann*
Nota: artigo publicado no site Meucerebro

Ontem um menino que brincava me falou que hoje é semente do amanhã...Para não ter medo que este tempo vai passar...Não se desespere não, nem pare de sonhar...Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs... - Gonzaguinha


A criança é a semente do amanhã. Semente que todo dia é ofertada aos cuidados da educação...Quanto tempo levará para ela brotar? Crescer? Tornar-se árvore? Nove anos? Treze anos? Dezoito anos? Vinte e um anos? Menos? Mais? Nada de prazos!  É necessário colocar a educação no coração da sociedade durante toda a vida (Delors, 1999).
Diariamente temos possibilidades de criar novas conexões neurais, novas aprendizagens, por isso educação é algo que nunca chega ao fim, ela faz parte do ser humano, está em todos os lugares, nas mais diversas situações. Contudo, como forma de organização social, há um local que elegemos como foco principal de disseminação do saber, a escola. Esta, assim como a sociedade, vem passando por constantes transformações, e como proposta de melhorias, tem investido em ações que visem o desenvolvimento integral do indivíduo.
O ser humano é o centro do processo educacional, faz-se necessário instrumentalizar os indivíduos para que possam ser protagonistas de seu próprio desenvolvimento e dessa forma ter atitudes mais assertivas, conforme o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) a inspiração para a educação do Século XXI é Paradigma do Desenvolvimento Humano.
Por volta de março de 1993 até setembro de 1996 uma comissão de especialistas coordenada por Jacques Delors - professor,economista e político francês - elaborou um relatório elencando quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento.
A palavra aprendizagem é o ponto chave destes pilares, mas ela contempla diversas dimensões nas quais o ser humano pode ser “trabalhado”, ou seja, a aprendizagem se dá de forma contínua e multifacetada, não se limitando somente a aquisição de conhecimentos, mas aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser.
Aprender a conhecer faz menção a busca pelo conhecimento, o que nos faz querer aprender. Aprender a fazer nos fala da prática, das habilidades.  Aprender a conviver ressalta o respeito ao próximo, o pluralismo de ideias, a cooperação. Aprender a ser menciona a compreensão de si mesmo, a introspecção.
Quando foi elaborado este relatório para a UNESCO, Delors e demais integrantes desta comissão já mencionavam o avanço cientifico no âmbito mundial, entretanto ainda desconheciam o quanto este avanço viesse a contribuir com as questões educacionais.
Os quatro pilares propostos para a educação do século XXI, podem ser relacionados com alguns conhecimentos provindos das neurociências:
"Aprender a CONHECER– Esse pilar nos arremete a MOTIVAÇÃO que podem ser as estratégias utilizadas pelo educador visando despertar o interesse do educando. Causar motivos para que o indivíduo tenha o desejo de conhecer mais sobre o assunto. Também pode ser relacionada a RECOMPENSAS, tais como um simples elogio quando o aluno conseguiu realizar a atividade. Ivan Izquierdo, nos diz que “Da mesma forma que sem fome não aprendemos a comer e sem sede não aprendemos a beber água, sem motivação não conseguimos aprender.”
"Aprender a FAZER– O educando através da EXPERIÊNCIA e da PRÁTICA vai tornando a aprendizagem mais significativa, pois aprendemos a medida em que experimentamos e fazemos novas associações. Conforme Suzana Herculano-Houzel: “A aprendizagem é um processo e depende fundamentalmente de experiência, o nosso cérebro aprende por tentativa e erro, ele vai se esculpindo a si próprio conforme ele é usado.”
"Aprender a CONVIVER -  Nosso cérebro possui neurônios especializados em colocar-nos no lugar do outro, são os NEURÔNIOS-ESPELHO – Conforme Ramachandran, “Os neurônios-espelho praticam uma simulação virtual da realidade, pois nosso cérebro adota a perspectiva de outra pessoa e pode inclusive, aprender apenas por observação.” Aprender a conviver proporciona a construção de laços afetivos, fortalece a EMPATIA, pois nos ensina a ter respeito pelo outro.
"Aprender a SER - Uma das últimas áreas a atingir a MATURAÇÃO CEREBRAL é a região frontal, local este responsável pela nossa capacidade de autorregulação. Controle de nossa conduta. Investir no SER é um processo continuo, e conforme Delors envolve todos os demais pilares mencionados.   Da mesma forma Gardner (apud Cosenza) enfatiza que “Os educadores têm por função ajudar o aprendiz a atingir o estágio de mestre” e dessa forma só nos tornamos mestres quando temos autorregulação, ou seja, conseguimos traçar metas, e vamos em busca das mesmas, evidenciando iniciativa, criatividade, perseverança, tolerância e MATURIDADE.
Se a escola é o cenário da educação, se faz necessário que políticas educacionais priorizem a formação continuada dos educadores. Que possibilitem maior entendimento do funcionamento do sistema nervoso, pois a inspiração da Educação do Século XXI, pautada no Paradigma de Desenvolvimento Humano, só será eficaz se realmente o educador entender cada vez mais sobre desenvolvimento humano. Não há como cultivarmos árvores sem entender de sementes...


Referências Bibliográficas:
COSENZA, Ramon. As neurociências e a Educação no século XXI. Fórum de Educação 2012.
DELORS, Jacques. Educação, um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre educação para o século XXI. Brasília, MEC, UNESCO e Cortez, 1998.
INSTITUTO AYRTON SENNA. Competências Socioemocionais. Disponível em http://educacaosec21.org.br/
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* Especialista em Alfabetização/ Educação Inclusiva/ Neuropsicopedagogia.Pós-graduanda em Neuroaprendizagem/ Professora em cursos de pós-graduação nas disciplinas voltados às  Neurociências, Neuropsicopedagogia, Educação Inclusiva, Alfabetização.

Reflexões sobre o ensinar e o aprender

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     Ana Lúcia Hennemann*

   Para a eficácia de uma aprendizagem pautada nos Quatro Pilares da Educação (Delors,1999): “aprender a conhecer” , “aprender a fazer” , “aprender a ser” , “aprender a viver junto”, os profissionais da educação devem ter conhecimento dos processos cerebrais, pois:
- Como ensinar “a conhecer” se nossos conhecimentos forem limitados?
- Como ensinar “a fazer”, se desconhecemos os processos que levam à aprendizagem?
- Como ensinar “a ser”, se nossa inteligência emocional se mostra prejudicada?
- Como ensinar “a viver junto”, se desconhecemos que nem sempre precisamos concordar ou discordar das situações, mas simplesmente compreender?
     Ter conhecimento do funcionamento cerebral é entender como o conhecimento humano vem a se organizar, de que forma as emoções influenciam na aprendizagem, enfim postular aquilo que Sócrates já dizia: “Conhece-te a ti mesmo”.
E conhecer a nós mesmos, nos proporciona o maior conhecimento do outro, pois conforme Herculano-Houzel (2009, p.6),

[...] quando nós entendemos as bases do aprendizado, como o cérebro forma novas conexões, forma as memórias, a importância da motivação para a formação de talentos, para o desenvolvimento de habilidades, é muito mais fácil lidar com alunos, lidar com os nossos colegas, lidar com a nossa família, com nossos amigos, e entendo que há por trás de como nós pensamos, como nós fazemos as coisas, como nós somos o que somos.

       Se não temos conhecimento de como funciona nossa fisiologia, de que maneira iremos promover um ensino no qual a aprendizagem seja realmente eficaz?
Se ao organizarmos o nosso planejamento não contemplamos atividades que priorizem estes quatro pilares básicos, de que forma estamos contribuindo para que a nossa prática profissional seja exercida com maestria?
      A informação e a tecnologia, disponível a todos, evidencia que a mesma informação que está presente na vida do educador também está presente na vida do educando. No entanto, “informação” não é “conhecimento”. E esse é o grande diferencial do educador, ele não é um ser somente de informação, mas ele sabe, ou deveria saber, ensinar melhor métodos para que os alunos possam “consolidar”  o conhecimento. Ter a clareza que os conteúdos são comuns a todos, mas a metodologia de trabalho deve estar pautada em práticas que contemplem o indivíduo como seres únicos, capazes de aprender independente de suas limitações. 
       A aprendizagem se dá de forma contínua e multifacetada, não se limitando somente a aquisição de conhecimentos, ela precisa envolver o “aprender a conhecer”, “aprender a fazer, “aprender a conviver” e “aprender a ser”. O educador que não primar para que sua aula seja elaborada contemplando estes quatro pilares da educação, ele não estará agregando quase nada, mas simplesmente reproduzindo o que o aluno poderá encontrar em qualquer mídia disponível na atualidade.

Bibliografia:
HERCULANO-HOUZEL, Suzana. Neurociências na Educação.Coleção Neurociências. São Paulo: Atta, 2009. 
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* Especialista em Alfabetização/ Educação Inclusiva/ Neuropsicopedagogia. Pós-graduanda em Neuroaprendizagem/ Professora em cursos de pós-graduação nas disciplinas voltados às  Neurociências, Neuropsicopedagogia, Educação Inclusiva, Alfabetização.

Mediação na aprendizagem

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Ana Lúcia Hennemann*


[...] o ensino deveria progressivamente se transformar numa autêntica “neuro-psico-pedagogia”: a ciência unificada e cumulativa onde a liberdade de ensino não é negada, mas voltada para a pesquisa pragmática de um ensino melhor estruturado e mais eficaz. O conceito que exige a experimentação é uma das belas ideias que a ciência pode aportar à pedagogia. Experimentar não é de manhã ensaiar uma ideia que nos chegou durante a vigília da noite anterior. Experimentar exige, ao contrário, conceber com paciência, minúcia e levando em consideração todos os conhecimentos passados, uma manipulação nova da estratégia de ensino, que será comparada com uma situação de controle (outro dia, outro exercício, outra classe).
Stanislas Dehaene

         Imagine-se num local onde todos fossem fluentes na escrita e leitura em mandarim, mas você não! O quadro estaria repleto de atividades, todos seus colegas empenhados na execução das mesmas, mas você... Ahhh e se além de não ter o domínio do mandarim, ainda fosse alguém muito tímido...a situação seria pior, não seria? E se em determinado momento o professor percebesse que você não está conseguindo um bom desempenho acadêmico e iniciasse a averiguação de possíveis hipóteses de sua não aprendizagem: - quem sabe você teria algum déficit de atenção? Ou dislexia, pois disléxicos tem muita dificuldade na aquisição da leitura! Quem sabe algum problema emocional estivesse bloqueando sua aprendizagem...
           Agora vamos aumentar um pouquinho esta imaginação, digamos que se passaram 3 anos nesta escola... O primeiro ano, destinado a alguns conhecimentos básicos do mandarim, seu professor estivesse passando por situações difíceis e se exaltasse com frequência, e você por medo ou timidez, se limitasse apenas a fazer cópias daqueles ideogramas, era uma maneira de manter-se ocupado...concorda comigo? No ano seguinte, quem sabe o próximo professor nem percebesse sua presença na sala de aula, afinal de contas, você copia muito bem, não faz perguntas, e além de tudo é tímido... Mas, chegou o terceiro ano, e aqui tem um fator diferencial, se você não ler e escrever em mandarim e também não tiver nenhum laudo que justifique sua não-aprendizagem, obviamente você terá que repetir o ano...Eu sei que a história é maluca, mas gostaria que entendesse quanto o olhar de um professor pode fazer a diferença na aprendizagem de qualquer educando.
      Frequentemente escutamos a fala de professores focada naquele aluno que se apresenta mais inquieto, seja por hiperatividade, seja pela constante participação. Porém, o que fazer por aqueles que são tímidos? Introvertidos? Estes sim, precisam muito mais do que um olhar, precisam de alguém que praticamente leiam suas intenções, percebam quando estão em dúvida, percebam quando tinham a intenção de perguntar algo, mas não o fazem, talvez por medo de se expor no grupo, ou por outra razão qualquer, por isso enfatizo novamente: - O olhar do professor faz toda a diferença na vida de uma criança. Pacheco (2007, p.150) enfatiza que “ Os professores precisam conhecer o estado de desenvolvimento dos alunos para encontrar as tarefas apropriadas. Isso significa que eles precisam observar os alunos para saberem para o que eles estão prontos. ” 
          Na psicologia cognitiva, existe a terminologia mediação, quefaz referência a “uma experiência refletida e instrutiva em que uma pessoa bem-intencionada, experiente e ativa, geralmente um adulto, se interpõe entre um indivíduo e as fontes de estímulos”. (DIAS 1995 apud VIANIN 2013)
         O cenário educacional está repleto de excelentes profissionais que apostam na mediação da aprendizagem como forma de auxiliar o aluno em suas necessidades mais básicas, ou seja, procuram verificar qual exatamente o estágio em que o aluno se encontra e a partir disso constroem estratégias que promovam a aprendizagem. Preste atenção no relato a seguir...
Era início do segundo semestre do 3º ano do ensino fundamental e num jeito muito tímido Júnior (nome fictício) ingressou na turma. Junto a ele, seu histórico: não sabia ler, pouca participação em aula, excessiva timidez, caderno impecável, letra exemplar, suspeita de déficit de atenção ou dislexia.  
Nas primeiras horas dentro desta nova realidade, foram propostas algumas atividades lúdicas, procurando integrar o aluno e investigar seu desempenho nas mais diversas áreas. Uma mediação eficaz necessita conhecer todas as possibilidades de atuação com o indivíduo e mesmo que no histórico relate situações de falta de êxito em determinadas atividades, se faz necessário verificar quais as possibilidades de mudanças daquela realidade e dentro desta perspectiva que Júnior foi convidado a escrever algumas palavras ditadas pela professora, ou seja, uma sondagem da aquisição da escrita, sendo que o mesmo deveria escrever sem medo de errar e do modo como soubesse. Resultado: o menino não conseguiu escrever nenhuma palavra coerente, poderíamos dizer que se encontrava na fase pré-silábica...
A professora deu continuidade à aula, porém muito pensativa: - o que fazer por uma criança no terceiro ano e com pouquíssimas condições de se alfabetizar...
Num determinado momento, lembrou de Ausubel: “a educação deve partir dos conhecimentos prévios do aluno” e nesse sentido, Fabre (2006 apud Vianin 2013) nos diz que “o pedagogo não é aquele que teoriza sobre a prática dos outros, mas sim sobre sua própria prática”, e eis que solicita novamente a criança:
- Júnior, antes pedi para você escrever algumas palavras, mas vamos fazer diferente:  do teu jeito de criança, eu quero que você me escreva, palavras que você já sabe escrever...- e ele, com um sorriso tímido, escreve; - bola, Júnior, Paulo, Maria, José, Marta, João... (bola, pois ele era excelente no futebol, e as demais palavras eram os nomes dos integrantes de sua família).
Excelente! A professora já tinha como montar uma linha de intervenção com essas pouquíssimas palavras e criar muitos jogos como estratégias de aprendizagem.... Resumindo a história: - o aluno conseguiu através de poucas atividades, porém constantes, a apropriação do processo de leitura e escrita. Em poucos meses já conseguia ler e escrever frases simples, mas para quem passou 3 anos olhando como se tudo fosse em mandarim, pode-se dizer que foi um progresso espetacular.
          Um mês após a vinda de Júnior para este contexto educacional vieram os resultados de exames neurológicos...nenhum déficit cognitivo! Entretanto, isso não descarta a possibilidade de problemas de outros fatores, tais como os psicológicos, porém, um grande equívoco é quando o professor fica à espera de um laudo e deixa de fazer aquilo com que se comprometeu: - promover a aprendizagem. Não existem receitas prontas, muito menos métodos milagrosos, mas deveria ocorrer maior investimento na conscientização do educador como promotor do ensino de estratégias cognitivas e metacognitivas necessárias à aprendizagem.
     Será que nos anos anteriores foram propostas atividades que aproveitasse os conhecimentos prévios do educando? O aluno por apresentar uma timidez acentuada foi “deixado de lado” porque não interferia no desenvolvimento da aula? Qual a práxis do educador frente a não aprendizagem do aluno?
         Há casos em que, sem a mediação do adulto a criança não consegue aproveitar na sua totalidade os estímulos propostos pelo ambiente, por isso se faz necessário o trabalho na “zona proximal de desenvolvimento” (Vygotsky), ou seja, alguém que aumente a capacidade do aluno de aproveitar as situações de aprendizagem que encontra.
          O professor, diante o processo de ensinar, mantém uma relação privilegiada do saber (Vianin, 2013), portanto compete a ele, escolher o tipo de intervenção mediativa de que o aluno necessita. Muitas vezes, cria-se nas escolas uma falsa ilusão de que basta colocar o aluno em constantes atividades que a aprendizagem acontece, no entanto, se faz necessário o entendimento que “a intervenção de uma pessoa mais competente que a criança [...] permite ao aluno desenvolver novas modalidades de desenvolvimento cognitivo.” (VIANIN, p.193)
          Sabemos que existem muitos fatores que interferem na aprendizagem, mas se existe um fator que faz a diferença é justamente a figura do professor, seu comprometimento com o processo educacional, sua práxis pautada na mediação e a busca contínua de modificar o funcionamento cognitivo dos educandos, auxiliando-os a tomar consciência de seus conhecimentos prévios e o quanto eles podem ser ampliados.


REFERÊNCIAS:

PACHECO, José... [et al.] Caminhos para inclusão:um guia para o aprimoramento da equipe escolar. Porto Alegre: Artmed, 2007.

VIANIN, Pierre. Estratégias de ajuda a alunos com dificuldade de aprendizagem. Porto Alegre: Penso, 2013.
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* Especialista em Alfabetização/ Educação Inclusiva/ Neuropsicopedagogia. Pós-graduanda em Neuroaprendizagem/ Professora em cursos de pós-graduação nas disciplinas voltados às  Neurociências, Neuropsicopedagogia, Educação Inclusiva, Alfabetização.

Motivação como ferramenta de aprendizagem

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Ana Lúcia Hennemann[1]



Da mesma forma que sem fome não apreendemos a comer e sem sede não aprendemos a beber água, sem motivação não conseguimos aprender.
- Iván Izquierdo.

    Vivemos tempos em que tudo parece muito difícil: violência, situação política, econômica, saúde pública, enfim, cada um através de seu prisma consegue enxergar aquilo que lhe aflige... Mas, também podemos afirmar que nosso conforto nos cega!!! Talvez tenhamos comodidades que em séculos anteriores nossos antepassados não as tiveram.
       Que tal imitarmos o personagem deChristopher Lloyd, o cientista Doc  Brown, no filme “De volta para o futuro”, mas voltar  no tempo até aportar exatamente no local onde estão chegando os primeiros imigrantes em terras brasileiras? Na mala, apenas sonhos, esperança de um futuro melhor, sementes e ferramentas agrícolas para que pudessem plantar seus alimentos, construir suas casas. Por todos os lados há somente mata, mas é esta a realidade, é através dela que terão que cuidar da família, zelar pela educação de filhos, caçar o alimento, buscar água para o próprio consumo...imaginem o tamanho da motivação que estes indivíduos precisavam ter?
      Muitos devem pensar: - mas isso é uma questão de sobrevivência!!! Lógico que é!! E é bem nesse ponto que quero tocar: - MOTIVAÇÃO é questão de sobrevivência! É ela que nos faz querer algo mais, que nos impulsiona para nos desvencilhar de todos e quaisquer empecilhos para que possamos alcançar nossos objetivos.
     Motivação provém da palavra em latim “MOVERE”, que significa mover para realizar determinada ação. Ou seja, é o impulso que nos move para agir. Percebe-se muitas escritas em neuroeducação enfatizando o papel das emoções, que trata-se de “um estado que a pessoa fica diante determinada situação/sentimento” (Mattos, 2010), pode ser algo passageiro, mas elas são de extrema importância, pois as emoções em ação tornam-se poderosos fatores de motivação, liberando neurotransmissores responsáveis pela nossa sensação de prazer, de bem-estar, acionando assim mecanismos que  sustentam a motivação, que “é uma condição de estar preparado e com vontade de fazer alguma coisa” (Mattos, 2010).
       A motivação traz o entendimento do porquê o aluno precisa estudar, que diferença fará na sua vida aprender determinado conteúdo, além de dar suporte para que muitas vezes consiga dizer não para algum compromisso com amigos e mesmo assim tenha prazer em estudar.
      Os mecanismos da motivação quando ativados no cérebro liberam dopamina, que é uma substância neuromoduladora capaz de modificar as atividades elétricas dos neurônios. Quanto maior a quantidade de dopamina que recebemos, maior é a sensação de bem-estar que associamos aquele comportamento, procurando repetir este estímulo como forma de ativar nosso sistema de recompensa.
        Se o aluno recebe um elogio do professor por determinada situação, com certeza irá querer repetir a ação para receber novos elogios. Se disser para tal pessoa que o sorriso dela é encantador, certamente ela vai sorrir com muito mais frequência. Como também se comemos algo que nos deu prazer, visitamos algum local maravilhoso ou sentimos alegria na companhia de alguma pessoa, vamos querer repetir a dose...
       Dentro da questão motivacional entra em cena também os famosos neurônios-espelho, que são células especializadas que tentam reproduzir automaticamente ações alheias e nos permitem tanto imitá-las quanto interpretá-las e nesse sentido Fraiman (2014) nos diz que “a postura do educador influencia na motivação de seus alunos e em seu impacto na comunidade”. Portanto, para motivar alunos, precisamos ser exemplo de motivação. Eles precisam sentir que é possível sim, fazer a diferença, que a educação é âncora motivacional para a vida, que nosso cérebro ‘aprende’ não só novos conteúdos na escola, mas também a alterar processos-chave para a vida.
        Talvez alguns educadores esqueceram o que um dia os motivou a chegar a tal lugar, o encanto que teve o primeiro emprego, ou ser chamado no edital do concurso, seu primeiro dia na escola, sua primeira reunião, o primeiro olhar de cada aluno... sim, os alunos já eram agitados, desmotivados, sempre o foram! Mas, a expectativa do fazer docente, fazia com que isso servisse de impulso para criar novas técnicas, preparar aulas diferenciadas, propor atividades diversificadas.... Em muitos momentos do fazer docente podemos passar por situações de desmotivação, mas se faz necessário pensar: - e se fosse meu primeiro dia, se fosse meu primeiro ano? Como agiria?
       Mussak (2013, p.119) conta um episódio que assistira de Madame Bovary: “Emma, queixa-se do esposo, e me chamou particularmente a atenção um trecho em que ela diz que seu marido é muito bom, atencioso, mas não é ambicioso. Ela, ao contrário, é ambiciosa, ela quer mais da vida. Naquele tempo, a mulher não devia ser ambiciosa, quem tinha de ser ambicioso era o marido, mas seu nível de expectativa é mais elevado do que o dele. Em certo momento, ela diz algo assim: quando olho para meu futuro, vejo um corredor escuro com uma porta fechada no seu extremo”. E isso a desesperava. Ela não conseguia manter a motivação no casamento porque, ao olhar para adiante, via apenas um trajeto sombrio e sem saída”.
        E quantas vezes podemos passar esta mesma sensação a nossos alunos, de que a vida é um trajeto sombrio e sem saída, é preciso ter vistas para um futuro mais audacioso ter a certeza do que e porque estamos na estrada da educação.
       Nosso corpo possui drogas internas, a dopamina e a ocitocina, responsáveis pelo prazer e pela colaboração, que são estimuladas com a palavra e o reconhecimento. (Costa, 2014). Quando falamos em motivação como ferramenta de aprendizagem é justamente o encantar com a palavra e o reconhecimento, durante séculos estes recursos nunca caíram de moda: “mostrar empatia pelo aluno, ser exemplo de motivação, trabalhar conteúdos através de histórias, mudar a tonalidade da voz, ...”
        São pequenos fatores que fazem a diferença, se não os fizesse não existiria nenhuma Malala Yousafzai, em pleno século XXI, recebendo prêmio Nobel (2014) por reivindicar o direito ao estudo, o direito de ter a presença de um professor, o direito de fazer a diferença no mundo.
        Se em tempos anteriores, alguns transformaram a história, trazendo consigo apenas algumas sementes e ferramentas agrícolas, que nós sejamos mais audaciosos, pois com todos os recursos que dispomos, precisamos ser referência em motivação, de tal forma que lá dentro do cérebro de nossos alunos, seus neurônios-espelho, clamem por: - eu quero ser assim, eu quero aprender isso... E dessa forma podemos passar a sensação de que a vida é um trajeto claro e com muitas oportunidades, desde que tenhamos motivação para alcançar nossos objetivos.

Referências:
COSTA, J. Congregarh-2015
JESEN, Eric. Enriqueça o cérebro: como maximizar o potencial de aprendizagem de todos os alunos. Porto Alegre: Artmed, 2011.
MATTOS, Geraldo. Dicionário Júnior da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 2010.
MARINS, L. MUSSAK, E. Motivação: Do querer ao fazer. Campinas: 7 mares, 2013.


[1]Especialista em Alfabetização. Neuropsicopedagogia Clínica. Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Neuroaprendizagem. Pós-Graduanda em MBA em Liderança e Coaching para Gestão de Pessoas.

Considerações sobre o Livro Neuropsicopedagogia Clínica – Introdução, Conceitos, Teoria e Prática

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        Ana Lúcia Hennemann*
Autor:
Número de Páginas:146

Ano: 2015
Editora: Juruá

   Com menos de 10 anos no Brasil, na modalidade de especialização Lato Sensu, a Neuropsicopedagogia tem apresentado um elevado crescimento, sendo que neste ano de 2015, destacou-se com alguns marcos importantes:
- I Seminário de Neuropsicopedagogia, ocorrido na cidade de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina; - o presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia, prof Drº Luiz Antonio Correa, apresentou no Senado Federal a Conferência: "Uma Visão Neuropsicopedagógica do Desenvolvimento Humano" (links: http://migre.me/s0ImW e http://migre.me/s0IoD ) e o  lançamento do livro: Neuropsicopedagogia Clínica – Introdução, Conceitos, Teoria e Prática, publicado pela editora Juruá.
    Além do Código de Ética - Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia, o livro Neuropsicopedagogia Clínica atualmente é um dos principais documentos da profissão. E é sobre ele que venho a descrever uma breve resenha elencando aspectos importantes ressaltados na obra.
         A autora, profª Drª Rita Margarida Toler Russo, traz contribuições que pontuam muitas inquietações que haviam dentro deste contexto. Numa leitura muito prazerosa, o livro está distribuído em 5 capítulos, contemplando as diversas necessidades que o Neuropsicopedagogo poderá ter no decorrer de sua atividade profissional tanto no conhecimento teórico, quanto no conhecimento prático.
      No primeiro capítulo, intitulado A Neuropsicopedagogia Clínicahá a definição do conceito da Neuropsicopedagogia, definida pelo SBNPp (apud RUSSO, 2015) como: “uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos conhecimentos da Neurociência aplicada à educação, com interfaces da Psicologia e Pedagogia que tem como objeto formal de estudo a relação entre cérebro e a aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e escolar.”
      Neste capítulo um dos pontos que merecem destaque é quando Russo (2015, p.17) menciona: “A Neuropsicopedagogia Clínica, embora estude o funcionamento do cérebro e o comportamento humano, tem os alicerces de sua prática nas teorias de aprendizagem e nas estratégias para o ensino aprendizagem.” Em outras palavras: não adianta apenas entender o funcionamento do sistema nervoso, se faz necessário entender as teorias que fundamentam a aprendizagem e que estratégias poderiam ser mais eficazes para o atendimento de determinados indivíduos.
       Após as colocações sobre a Neuropsicopedagogia, a autora faz uma contextualização da definição e da diferenciação entre as atividades desenvolvidas pela Neuropsicopedagogia, a Neuropsicologia e a Psicopedagogia, que como forma de sistematização estão inseridas no quadro(1), entretanto, no livro a autora traz uma abordagem mais ampla e com maior riqueza de detalhes de cada uma delas:

Quadro 1- Diferenciações e semelhanças entre a Neuropsicopedagogia, Neuropsicologia e Psicopedagogia

Neuropsicopedagogia
Neuropsicologia
Psicopedagogia
Bases
Neurociência + Psicologia + Pedagogia
Neurociência + Psicologia
Psicologia +  Pedagogia
Instrumentos de avaliação
Faz uso de testes não privativos (instrumentos que podem ser utilizados tanto pela Psicologia quanto por outras profissões), realizando avaliação, intervenção e acompanhamento do indivíduo com dificuldades de aprendizagem, transtornos, síndromes ou alta habilidades que causam prejuízo na aprendizagem escolar e social.
Faz uso de instrumentos especificamente padronizados avaliando as funções neuropsicológicas (habilidades de atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento de informações, visuoconstrução, afeto, funções motoras e executivas.
Faz uso de métodos, instrumentos  e recursos próprios para a compreensão do processo de aprendizagem, cabíveis na intervenção.
Atuação
Atua na avaliação, intervenção, acompanhamento, orientação de estudos e no ensino de estratégias de aprendizagem.
Atua no diagnóstico no tratamento e na pesquisa da cognição, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral.
Atua em Educação e Saúde que se ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola, a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando procedimentos próprios, fundamentados em diferentes referenciais teóricos
Semelhanças
Natureza Multiprofissional, inter e transdisciplinar e o estudo do desenvolvimento humano e dos processos de ensino e aprendizagem.
Fonte: elaborado pela autora de acordo com a fundamentação do Livro Neuropsicopedagogia Clínica

    Ressaltada a diferenciação entre as três linhas de atuação, o capítulo 1(um) é contemplado com a descrição minuciosa do sistema nervoso, suas divisões e subdivisões, a influência dos neurotransmissores em questões relativas à aprendizagem, bem como as partes do neurônio e a descrição das sinapses. A autora traz também o conceito de neuroplasticidade e a importância da mesma no processo de aprender/reaprender. 
     Como teórico das funções cerebrais, Luria recebe destaque neste capítulo onde são explicadas as unidades funcionais e as bases neuropsicológicas da aprendizagem: atenção, percepção e memória.           
      O segundo capítulo, Desenvolvimento e Aprendizagem, reforça o comprometimento do neuropsicopedagogo com o estudo do desenvolvimento humano nas suas diversas interfaces, ressaltando as questões relativas à aprendizagem, trazendo o resgate de contribuições importantes de Piaget (figura 1), tais como:

Figura 1- Piaget e os processos de Equilibração, Assimilação e Acomodação.

Fonte:  elaborado pela autora de acordo com a fundamentação do Livro Neuropsicopedagogia Clínica

         O mesmo capítulo  sintetiza as contribuições de Vygotsky e o importante papel da mediação da aprendizagem, mas além disso são abordados o significado dos signos quanto ao desenvolvimento humano, onde aparecem as questões relacionadas a internalização e a reconstrução da atividade interna. A autora cita que “sem os signos externos, principalmente a linguagem, não seriam possíveis a internalização e a construção das funções superiores. ” (RUSSO, 2015, p.72)
     Como terceiro protagonista do desenvolvimento humano, Henri Wallon e seus estudos do desenvolvimento infantil, envolvendo aspectos afetivo, cognitivo e motor, que são abordados com muita propriedade.
      O quarto e último teórico, trata-se de Albert Bandura, este tem seus estudos pautados na aprendizagem e o papel da modelação social no desenvolvimento cognitivo e linguístico das crianças. Através de Bandura percebemos que muitas aprendizagens ocorrem por observação do comportamento de outras pessoas. Conforme Russo (2015, p.78),  

A abordagem de Bandura consiste em uma teoria de aprendizagem “social”, porque estuda a formação e a modificação do comportamento nas situações sociais. Seu objetivo é observar o comportamento dos indivíduos durante a interação, reforçando a influência dos esquemas de reforço externo dos processos de pensamento, tais como: crenças, expectativas e instrução.

     Através da proposta de explicar o como diferentes teóricos percebem o desenvolvimento e a aprendizagem, Rita Russo demonstra que o neuropsicopedagogo necessita se apropriar destes conhecimentos percebendo o indivíduo na sua totalidade, entendendo que o desenvolvimento e aprendizagem envolvem dimensões “neuro-bio-psico-sociais”.
     O capítulo três, Dificuldade de aprendizagem, inicia com algumas conceituações sobre a terminologia que aparece no título, sendo que conforme a Organização Mundial de Saúde (1993 apud RUSSO, 2015, p. 84-85),

Os transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares compreendem grupos específicos de transtornos manifestados por comprometimentos e significativos na aprendizagem. [...] Eles não nãos simplesmente uma falta de oportunidade de aprender, e sim, dificuldades decorrentes de desenvolvimento neurológico.

        As dificuldades de aprendizagem são muitas e necessitam muito conhecimento sobre tudo que envolvem estes transtornos, nesse sentido a autora traz a conscientização da importância do neuropsicopedagogo clínico ter familiaridade com o DSM-V, principalmente sobre os Transtornos do Neurodesenvolvimento.
       Como forma de contribuição para o atendimento clínico, ela traz de forma breve, porém com muita riqueza de conteúdo, descrições de distúrbios mais comuns relacionados à aquisição de linguagem e habilidades matemáticas, mas também há a descrição de habilidades que a criança necessita ter desenvolvido para a aquisição da alfabetização e numerancia.
     Um ponto muito positivo deste capítulo é justamente a forma como a autora fez a descrição de como ocorre o desenvolvimento normal do indivíduo dentro de determinada área e quais os comprometimentos que ocorrem quando este não se encontra dentro dos padrões esperados. Trata-se de um capítulo muito prático, repleto de elementos que auxiliam na avaliação neuropsicopedagógica.
     O quarto capítulo,Princípios da avaliação neuropscicopedagógica, traz orientações pertinentes quanto ao uso de testes do neuropsicopedagogo para avaliação dos indivíduos. Rita Russo além de mencionar a variedade de testes disponíveis, enfatiza o cuidado para não ser utilizados testes vetados a demais profissionais, e, também lembra que as escolhas dos instrumentos de avaliação devem estar coerentes com as características do paciente.
     Nesse sentido, o  trabalho desenvolvido por Vygotsky, Luria e Leontiv , em seu livro "Desenvolvimento e aprendizagem", comprovaram que os testes devem contemplar  elementos que já são de conhecimento prévio do indivíduo, que fazem parte da cultura local,  exemplos estes podem ser lidos no capítulo intitulado “Diferenças culturais de pensamento”. Sendo que, Rita Russo aborda a importância de adaptar os testes para as condições do paciente e analisá-lo de maneira mais qualitativa (RUSSO, 2015).
     Outro item que deve ser ressaltado faz menção à avaliação neuropsicopedagógica, ou seja, para quais habilitações o neuropsicopedagogo possui ou não capacidades de avaliar e quais as patologias que são de competência de ouros profissionais.  Como forma de sistematização, são apresentadas na figura(2) abaixo:

Figura 2- Avaliação Neuropsicopedagógica.

Fonte:  elaborado pela autora de acordo com a fundamentação do Livro Neuropsicopedagogia Clínica

      De forma muito bem detalhada no livro, Russo apresenta as etapas do atendimento neuropsicopedagógico, mas subliminarmente há ênfase para flexibilidade e perspicácia do neuropsicopedagogo quanto a melhor estratégia para cada indivíduo...por exemplo:

Quadro 2- Sugestão de atendimento neuropsicopedagógico
Sugestão de atendimento neuropsicopedagógico

Objetivo
Estratégias
Tempo:
Anamnese
- Investigar o histórico familiar, gestacional, parto - fatos que envolvam o momento do nascimento, pós-parto. Pós-parto.
– Avaliar a situação atual do paciente, sua evolução ao longo do tempo e sua compreensão sobre seu problema. Desenvolvimento neuropsicomotor; o jeito de ser do paciente; experiências escolares; Estudo da queixa (motivo da consulta).
- Entrevista com os familiares;
- Observação lúdica;
- Análise do material escolar;
- Diálogo com a equipe  técnica-pedagógica e professores da escola frequentada pelo paciente.
- a entrevista pode ocorrer numa única sessão, porém, logo em seguida deve-se informar o objetivo e a função da avaliação neuropscicopedagógica, a previsão do número de sessões e a forma de encerramento, a definição do horário e a duração das sessões, local de atendimento, honorários e a forma cobrança.
Avaliação Neuropsicopedagógica

- observação do indivíduo frente as atividades propostas (forma como executa as atividades dirigidas e espontâneas, se apresenta: colaboração,  oposição, inquietude, motivação, insegurança ou tensão)
- análise do material escolar;
- investigação das habilidades sociais
- Instrumentos padronizados;
- Hora lúdica
- etc;
Entre 3 a 6 sessões de 1 hora e ½, dependendo do caso. Na fase de avaliação é possível atender o paciente até 3 dias na semana, porém intercalados.

Devolutiva aos familiares, ao paciente e à escola.
- apresentar os resultados evidenciados a coleta de dados feita na avaliação, indicando fatores que estão dificultando a relação ensino-aprendizagem, mas também, orientar e sugerir estratégias para melhorar
Tanto o paciente como os familiares e/ou responsáveis necessitam de orientações e indicações para acompanhamento futuro
Intervenção
- Utilizar estratégias variadas que promovam o ensino-aprendizagem
- Estratégias variadas contemplando as necessidades de cada paciente.
- Sessões de uma a duas vezes por semana com duração de 50 minutos.
 Fonte:  elaborado pela autora de acordo com a fundamentação do Livro Neuropsicopedagogia Clínica

     Em aspectos relacionados à avaliação, há a preocupação de mostrar que existem modalidades diferentes de avaliar o paciente, envolvendo:
Avaliação quantitativa: instrumentos de leitura, escrita, aritmética, atenção e funções executivas, memória de aprendizagem e destreza motora.
Avaliação qualitativa: desenhos, sequência e movimentos, exercícios de criatividade, tarefas envolvendo leitura, escrita, cálculos, interpretação e intelecção de texto, jogos (competitivos ou não) e softwares educativos.
      Após toda a explanação das etapas destinadas ao atendimento ao paciente, a autora faz a descrição de diversos Instrumentos de avaliação que podem ser utilizados nas diversas áreas  do  desenvolvimento  humano.
     O quinto e último capítulo aborda a Intervenção Neuropsicopedagógica e inicia enfatizando a importância do uso de estratégias variadas de aprendizagem como instrumentos de intervenção, que segundo Russo (2015, p.125) “por serem conscientes e intencionadas, as estratégias de aprendizagem implicam em Plano de Ação (intervenção)”.  E para isso, é ressaltada a importância do planejamento de metas contemplando fases: inicial, intermediária e final da intervenção, sendo que estas são propostas por Beltrán (1993,1996) e Rita Russo traz para o contexto da Neuropsicopedagogia.

 Quadro 3- Metas de Intervenção Neuropsicopedagógica
Metas de intervenção Neuropsicopedagógica
Fase Inicial
- investigação de como o paciente utiliza-se de sua capacidade em aprender e de que forma esta possa ser reconhecida e assim legitimar as habilidades e competências nos desafios escolares.
Fase Intermediária
- uso de estratégias visando os processos de compreensão-retenção e recuperação-utilização. O neuropsicopedagogo fará uso de recursos variados
Fase Final
- reavaliação do quadro: se o paciente alcançou as metas procede-se à alta; - se não atingiu elabora-se um novo relatório, destacando os ganhos do paciente durante o período de intervenção, mas em seguida, apresenta-se um novo plano.
  Fonte:  elaborado pela autora de acordo com a fundamentação do Livro Neuropsicopedagogia Clínica

     E neste capítulo final, Rita Russo nos contempla com sugestões de atividades que podem fazer parte do plano de intervenção.
       Os tópicos descritos aqui são mínimos comparados a todo conteúdo abordado no livro. A autora preocupou-se em elencar aspectos fundamentais para o trabalho do Neuropsicopedagogo Clínico, pautados tanto na teoria quanto na prática. O livro constitui-se de 146 páginas muito bem utilizadas e repletas de saberes importantes, que necessariamente não se limitam somente ao neuropsicopedagogo, mas a todos profissionais da área clínica que intervém nos aspectos relativos ao ensino-aprendizagem.
      
Nota: Para aqueles que tiverem interesse na aquisição do livro, eis o link onde comprá-lo: https://www.jurua.com.br/shop_item.asp?id=24083  

Bibliografia:
RUSSO, Rita Margarida Toler. Neuropsicopedagogia Clínica: Introdução, Conceitos, Teoria e Prática. Curitiba: Juruá, 2015.
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Especialista em Alfabetização, Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva, Neuropsicopedagogia Clínica e Pós-graduanda em Neuroaprendizagem. - whatsApp - 51 9248-4325

Como fazer a citação deste artigo:

HENNEMANN, Ana L. Considerações sobre o livro Neuropsicopedagogia Clínica - Introdução, Conceitos, Teoria e Prática. Novo Hamburgo, 03 nov/ 2015. Disponível online em: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2015/11/livro-neuropsicopedagogia-clinica.html




As crianças estão mudando o foco...

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Ana Lúcia Hennemann[1]
“As crianças de hoje estão crescendo numa nova realidade, na qual estão conectadas mais a máquinas e menos a pessoas de uma maneira que jamais aconteceu antes na história da humanidade [...] Menos horas passadas com gente e mais horas olhando fixamente para uma tela digitalizada são o prenúncio de déficits”
Daniel Goleman

Nesta última década há a predominância de uma nova geração: “A falta de foco e desatenção”. E não estou falando da geração Y, a qual as repórteres Matsu e Schabib se referiram como as que nasceram com “a faca, o queijo e o smartphone na mão”, estou falando da geração “Z”, nascida a partir do ano 2000, que além dos atributos da faca, do queijo e do smartphone, está sendo apontada também, como a geração selfie, ou seja eu, meu mundo e nada mais.  Guilherme Arantes, há muito tempo já cantava isso...”Meu mundo e nada mais”, não no sentido dessa exposição do ego, mas no sentido das pessoas se perceberem tão feridas que não enxergam expectativas de mudanças.
O grande problema da geração selfie é que seu foco está todo voltado apenas para um mundo irreal, virtual, artificial...tempos líquidos. 
 Falas de adolescentes já se tornaram jargões de crianças: “Professora não deu tempo”. Como assim, criança não tem tempo? Também tenho acesso a internet, e aquele pequeno cidadão que aos 8 anos de idade enfatiza que não teve tempo para fazer a tarefa de casa, me conta fatos relacionados ao Facebook, ao YouTube e os avanços de nível que teve em determinado jogo virtual.
Poderíamos dizer que esta geração está sem foco, mas na verdade, focada ela está, porém a questão é: em quê? E não pensem que sou daquelas pessoas anti-era-digital, nada disso, mais plugada que eu, impossível! O problema é a qualidade do que escolhemos para nos manter atentos, pois foco é uma questão de nos afastar daquilo que não nos é importante! É concentrar nossa atenção em determinado aspecto, pois em latim atenção significa attendere, ou seja, entrar em contato, nos conectar com mundo, moldando e definindo a nossa experiência.
Goleman (2013) relaciona a nossa capacidade de atenção, como nível de competência com que realizamos determinada tarefa. Entretanto, apesar da atenção ser um fator importante para a forma como levamos a vida, ela é um recurso mental que passa despercebido. Quando deixamos de desenvolver atividades que promovam o nosso foco, nossa atenção, nos tornamos mais dispersos. Quando nos dedicamos a fortalecer nossa atenção em aspectos que são realmente relevantes para o indivíduo humano, estamos nos proporcionando organização, economia de tempo e qualidade de vida.
Segundo Goleman existem três aspectos que envolvem o foco: - interno, no outro e externo.
®Foco interno– nos põe em sintonia com nossas intuições, nossos valores e nossas melhores decisões, esse tipo de foco nos faz refletir sobre nossas ações e nos proporciona melhor estrutura cognitiva.
Lembram daquele antigo hábito de escrever os famosos diários, pois eles eram importantíssimos, através deles colocávamos na escrita aquilo que vinha em nossos pensamentos. Isso é uma forma de se reestruturar, de analisar o que está acontecendo consigo.
Outra forma de perceber nossa capacidade de foco é redação. Qual seria a qualidade de sua redação? Em quanto tempo você conseguiria externalizar num texto o que permeia em seus pensamentos?
®Foco no outro– facilita nossas ligações com as pessoas de nossas relações. É a questão da empatia, de perceber o outro. Mas será que estamos ensinando nossas crianças a ter empatia?
Esta semana fiz uma atividade onde os alunos deveriam desenhar e apresentar aos colegas fatos relacionados ao final de semana: “o que me deixou feliz”, “o que me deixou triste”. Atividade feita, apresentação iniciada, mas a surpresa: a medida em que as crianças falavam, percebi que fatos que os deixaram tristes e felizes estavam somente voltados à questão de ter ou não adquirido pontuação em seus jogos virtuais. Isso me surpreendeu, pois noções de felicidade e tristeza são percebidas não mais pela nossa relação com o outro ser humano e sim pela interação com um jogo! E no exercício de refletir sobre o que falaram e analisar sobre a precariedade do afeto humano, eis que um pede a palavra e diz: - ‘Professora, mas a gente joga em família, meu pai e minha mãe usam seus notes e eu o Tablet, todo mundo fica junto jogando.” E desse modo a nova sociedade está sendo constituída...
®Foco externo -  nos ajudam a navegar pelo mundo que nos rodeia. Nos faz entender qual nossa contribuição para o mundo. Entretanto, se nas famílias as interações pessoais se dão via virtual, obviamente nossa interação com o mundo também será dessa forma. “Cada macaco no seu galho”. Aliás, este é o título de uma das crônicas de Daniela Malagoli retratando esta solidão coletiva à qual estamos vivenciando.
Se faz necessário entender que o mundo tecnológico é sim importante para a aprendizagem, ele também nos ensina a manter o foco. Contudo, o que é preocupante é o tempo com que as crianças estão plugadas e deixando de exercer outras atividades. É o não ter tempo para as atividades escolares, e futuramente é o não ter tempo para as atividades voltados ao trabalho, à família, à sociedade e principalmente o não ter tempo para cuidar de si.
Foco se relaciona com amor, com paixão, com desempenhar aquilo que estamos fazendo com entrega. Pessoas que amam o que fazem aumentam a capacidade de focar e aprendem com mais facilidade. Segundo Goleman (2012, p 20): “Quando nossa mente divaga, nosso cérebro ativa uma porção de circuitos neurais que murmuram sobre coisas que não tem nada a ver com o que estamos tentando aprender.”
As crianças estão sim tendo atenção seletiva, que é a capacidade neural de focar em determinado contexto e esquecer tudo aquilo que ocorre no ambiente. Porém, este tipo de atenção seletiva, “focada na máquina”, “no selfie”, está criando pessoas que já não olham mais nos olhos dos outros, que são incapazes de perceber os sentimentos e futuramente indivíduos desprovidos de afeto.
Ter foco, começa antes de tudo com os cuidados que temos para conosco, não esse olhar de selfie, de exposição, mas sim um olhar mais profundo, um olhar de identidade, de entender: quem somos, e qual nossa importância para o mundo. Que saibamos dar às crianças este entendimento e fazê-las sair deste estado de “Meu mundo e nada mais”.
Se faz necessário ensiná-las a ampliar a capacidade de focar, investir em outras áreas: sono, alimentação, ensino, artes, interação com outros, esportes...pois quando elas realmente tiverem adquirido a noção de cuidar de si, serão capazes de olhar nos olhos de outras pessoas e fazer o convite para cuidar do mundo.

Bibliografia:
GOLEMAN, Daniel. Foco: A atenção fundamental para o sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
MATSU, Carla. SCHABIB, Luana. Geração Y: Quem são esses caras. Disponível online em: http://migre.me/mAzhM



[1]  Especialista em Alfabetização, Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva, Neuropsicopedagogia Clínica e Pós-graduanda em Neuroaprendizagem. - whatsApp - 51 9248-4325

Como fazer a citação deste artigo:

HENNEMANN, Ana L. As crianças estão mudando o foco. Novo Hamburgo, 06 nov/ 2015. Disponível online em: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2015/11/as-criancas-estao-mudando-o-foco.html



Janelas de Oportunidades

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Ana Lúcia Hennemann[1]

Várias pessoas durante o dia e hora compram smartphones, tendo acesso as mesmas funções, programas e possibilidades; entretanto, bastam alguns momentos de uso e novas configurações e/ou novos aplicativos são inseridos tornando cada aparelho mais diferenciado quanto a sua funcionalidade.
Podemos dizer que o ambiente tem interferência até mesmo na vida funcional de um smartphone, pois cada proprietário ao inserir novos recursos, modifica a configuração original e o uso constante de determinadas ferramentas faz com que seus ícones estejam em local de maior visibilidade, facilitando desse modo o acesso aos mesmos.
O fato mencionado pode servir de analogia ao funcionamento de nosso sistema nervoso, entretanto que fique bem claro que não se trata de instalar e desinstalar programas, mas de entender que desde a mais precoce idade possuímos bilhões de neurônios que nos possibilitam inúmeras conexões que tanto podem ser reforçadas através de uso intensificado tanto podem ser eliminadas devido à falta de uso. Assim como o smartphone viemos com algumas “configurações de fábrica”, nosso sistema neurológico, mas este envolve modificações anatômicas e funcionais que precisam da experiência do sujeito no meio para se completar (Riesgo, 2007). Não nascemos prontos!
 Por exemplo, todo ser humano nasce com uma estrutura cerebral que apresenta regiões especificas da linguagem, possibilitando assim a fala e o entendimento de qualquer língua do planeta, entretanto se ninguém interagir com esse ser, negligenciá-lo de comunicação, esta fala apesar de ter todos os pressupostos para que aconteça de modo eficiente, poderá apresentar inúmeras defasagens.  
O desenvolvimento do ser humano está vinculado a maturação cerebral, que se inicia dentro do ventre materno e vai até a fase adulta. A neurociência ainda não tem definida uma idade cronológica em que a estrutura e função do cérebro estão completamente amadurecidas, mas a estimativa é para além dos 30 anos (Houzel, 2013), contudo esta maturação está relacionada com aprendizagens e as bases destas são alicerçadas nos primeiros anos de vida e são essências para o desenvolvimento humano apresentando períodos sensíveis, ou seja, períodos em que a aprendizagem de habilidades ou desenvolvimento de aptidões e competências se faz de modo mais facilitado, são as famosas janelas de oportunidades.Ou seja, quando expostos a determinados estímulos temos muito mais facilidade de desenvolvê-los na sua totalidade. 
Bartoszeck (2009) ressalta que o termo janelas de oportunidades em muitas mídias tem aparecido de maneira inadequada, sendo consideradas janelas que poderiam se fechar caso não fossem tomadas medidas urgentes nestes períodos ou que não haveria mais possibilidade de ocorrer o aprendizado. A terminologia adotada inicialmente referia-se a períodos críticos, que na interpretação de alguns autores, mostrava-se períodos que se fecham e não voltavam mais, dessa forma, para maior entendimento do público esta nomenclatura aparece como períodos sensíveis ou janelas de oportunidades.
Um exemplo a ser citado é a visão, a menos que tenhamos uma má formação genética ou uma lesão pré-natal, todos indivíduos possuem a capacidade básica de ver, entretanto após o nascimento, a visão ainda se encontra em processo de maturação, necessitando de estímulos para fortalecer as conexões neurais associadas as áreas visuais.
Nossos cérebros são flexíveis e adaptáveis, sendo que podemos desenvolver muitas habilidades durante toda a vida, entretanto se não desenvolvermos determinadas habilidades, nas denominadas janelas de oportunidades, não quer dizer que não tenhamos capacidades de desenvolve-las, mas sim que estas necessitarão de muito mais empenho e intervenção para que sejam adquiridas ou amenizadas. Nesse sentido Bartoszeck (2007), pautado nos estudos de Doherty (1997), apresenta as seguintes funções que podem ser estimuladas em determinadas faixas etárias:

JANELAS DE OPORTUNIDADES - Períodos mais propícios ao desenvolvimento de habilidades
Funções
Faixa ótima de desenvolvimento
Visão
0-6 anos
Controle emocional
9 meses-6anos
Formas comuns de reação
6 meses-6 anos
Símbolos
18 meses-6anos
Linguagem
9 meses-8 anos
Habilidades sociais
4 anos-8 anos
Quantidades relativas
5 anos-8 anos
Música
4 anos-11 anos
Segundo idioma
18 meses-11anos
Fonte: Doherty (1997 apud Bartoszeck 2007)

A maturação cerebral ocorre em diferentes regiões ao longo dos anos, sendo que o entendimento destas janelas de oportunidades retrata a importância de estímulos adequados para o melhor desenvolvimento da criança, entretanto há de se ter coerência para não submete-la a estímulos inapropriados ou intensos, estimulação em demasia é tão prejudicial quanto não se ter estimulação nenhuma. Em demasia corre-se o risco de forçar a criança para algo que ela ainda não consegue responder, causando frustrações e por outro lado crianças que recebem pouca estimulação, apresentam menor quantidade de sinapses e automaticamente menos conexões em seu cérebro resultando num desenvolvimento mais lento, portanto não se trata da quantidade de estímulos, mas sim da qualidade.
Crianças são diferentes de smartphones, não há como inserir aplicativos e pensar que já estão aptas para determinadas habilidades, por exemplo desde cedo podemos estimular a criança para um segundo idioma e ela conseguirá pronunciá-lo sem sotaque, mas existem habilidades motoras que nesta mesma fase ainda não podem ser realizadas:recortar, atar cadarços, abotoar casacos.  É preciso investimento a longo prazo, otimizar ações que privilegiem as janelas de oportunidades, mas entender que estas estão pautadas num somatório de ações que vão desde a qualidade da alimentação, do sono, do ambiente social ou seja, cada dia é importante, todo dia novas janelas se abrem e estímulos bem direcionados podem mudar toda uma predisposição genética.


REFERENCIAS


BARTOSZECK, A.B. Neurociência dos seis primeiros anos: implicações educacionais. EDUCERE. Revista da Educação, 9(1):7-32., 2007.

BARTOSZECK, A. B.; BARTOSZECK, F. K. Percepção do professor
sobre neurociência aplicada à educação. EDUCERE - Revista da
Educação, Umuarama, v. 9, n. 1, p. 7-32, jan./jun. 2009.

HOUZEL, Suzana Herculano. O cérebro adolescente: a neurociência da transformação da criança em adulto. São Paulo: Amazon, 2013.

ROTTA, Newra. OHLWEILLER, Lygia. RIESGO, Rudimar. Transtornos de Aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2007.

Como fazer a citação deste artigo:

HENNEMANN, Ana L. Janelas de Oportunidades. Novo Hamburgo, 19 nov/ 2015. Disponível online em: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2015/11/janelas-de-oportunidades.html






[1]Especialista em Alfabetização, Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva, Neuropsicopedagogia Clínica e Pós-graduanda em Neuroaprendizagem. - whatsApp - 51 9248-4325

Neurociências na formação básica de professores

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Estudos relacionados à Neurociência e Aprendizagem tem sido muito procurado pelo contexto educacional, entretanto há muito a ser estudado para que tenhamos maior compreensão de todo benefício que as neurociências podem trazer aos educadores. Conforme Leonor Guerra, em palestra proferida ao Instituto Ayrton Senna: - a procura pela neurociência é grande, mas se percebe que o professor não tem aplicado na prática os conhecimentos advindos destes estudos.
Nesse sentido, em 2015, escrevi o artigo “NEUROCIÊNCIAS NA FORMAÇÃO BÁSICA DE PROFESSORES”, que se encontra em avaliação para publicação. Neste, abordo a importância do conhecimento cientifico dentro das escolas e a principalmente na formação básica do professor, pois dessa forma, quando este iniciar suas atividades profissionais terá maior entendimento do funcionamento neurobiológico do ser humano.
A formação básica do professor, ao decorrer de muitos anos primava pela qualidade em ensinar como ensinar, ou seja, qual metodologia utilizar para proporcionar a aprendizagem do educando, mas pouco se aprendia sobre o que fazer quando o aluno não obtivesse a aquisição dos conteúdos. O processo de inclusão, as mudanças tecnológicas, o maior acesso aos indivíduos ao contexto escolar trouxeram diversidade à educação, então se ocorreram períodos históricos onde o professor precisava se preocupar somente com os alunos que aprendiam e qual metodologia empregaria para ensinar aos mesmos, nos dias atuais isso parece “contos da carochinha”, a diversidade trouxe a necessidade de aprimoramento da prática pedagógica.
Como forma de contribuir com a Semana do Cérebro[1] apresentei estas discussões na V SEMANA NACIONAL DO CÉREBRO, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cujos slides dos tópicos abordados estão disponibilizados abaixo...



[1]A SEMANA DO CÉREBRO é uma iniciativa da Dana Foundation (http://www.dana.org/BAW/) que, no Brasil, está sob a coordenação da SBNeC. É direcionada ao público em geral e vem sendo seguida por vários países há mais de duas décadas. O objetivo é criar uma cultura de divulgação da neurociência e sua interface com educação, arte, comportamento e emoção, alimentação, qualidade de vida, exercício físico, economia, psicofármacos, envelhecimento, além de doenças neurológicas, transtornos psiquiátricos, entre outros. Durante sete dias, em diversos pontos do planeta, esses conhecimentos estarão sendo difundidos através de palestras, debates, exposições, em todo tipo de espaço, como escolas, museus, clubes e universidades.

Alfabetização na Perspectiva de Linnea Ehri

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Ana Lúcia Hennemann[1]

     O ato de ler pode modificar as concepções que o indivíduo faz do mundo. Traz autonomia, expande a imaginação e aumenta a capacidade cognitiva. No entanto, ler é uma evolução histórico cultural (SOUZA, 2003), não nascemos com nenhuma área cerebral específica da leitura, mas sim, “há uma grande complexidade na forma como o cérebro processa a linguagem, com áreas de especialização para as diferentes dimensões da linguagem”.(SOUZA, 2003, p. 3)
    Diante desse fato, a de se entender que para que o indivíduo adquira a propriedade da leitura, várias áreas necessitam ser estimuladas e deve-se investir em atividades que auxiliem a criança na construção simbólica. Sendo que “[...]muitos educadores não se dão conta de como o tornar-se alfabetizado afeta a competência linguística dos falantes, tanto na fala como na escrita. ” (EHRI, 2016, p.50)
    Pesquisas desenvolvidas por Linnea Ehri[2]evidenciam que a aquisição da leitura se dá através de palavras e que estas ativam significados dentro do nosso cérebro, que nos fazem dar uma atenção especial à escrita das palavras e reconhece-las automaticamente. Conforme a neurocientista, existem vários processos utilizados para ler palavras, mas 4(quatro) deles são essenciais: decodificação (que envolve o uso do conhecimento grafema-fonema), analogia (que envolve o uso de partes de palavras conhecidas para ler palavras  desconhecidas quando ambas possuem o mesmo padrão ortográfico, ex: mola, bola), predição (que envolve o uso de informações contextual de uma ou mais letras para inferir a identidade das palavras, por exemplo: Maria brinca com sua....(imã, amiga... tia) e memória(que envolve a capacidade de leitura por reconhecimento automatizado).
    Sendo assim, em casos quais a criança não consegue se alfabetizar, os professores podem sim, trabalhar na perspectiva da memorização de um pequeno grupo de palavras (relativos ao nome da criança e/ou de demais familiares, bem como nomes de objetos significativos para a mesma) que uma vez memorizados, serviriam de conhecimentos prévios para reestruturar a construção de novas palavras.
    Ehri, diferente do que já se conhecia em termos de aquisição da leitura e escrita evidenciado por Ferreiro, contribui com fases naturais do processo de leitura: pré-alfabética, alfabética parcial, alfabética plena e alfabética consolidada.
    A velocidade com que cada criança ultrapassa estas diferentes fases varia muito de acordo com o ambiente, com a língua e também com a capacidade individual, mas de modo geral a sequência é sempre a mesma e a transição de uma para outra é sempre gradativa.
Fase Pré- Alfabética

    A criança não apresenta ainda um reconhecimento da correlação fonema-grafema, lembrando apenas de pistas visuais da palavra como o “M” de McDonald ou o “S” da Sadia e assim pode interpretar erroneamente, palavras similares, que contenham estas iniciais.
    Durante a fase pré-alfabética, as crianças não parecem prestar atenção às letras na grafia das palavras. Ao invés disso, elas aprendem a ler com base na formação de uma conexão entre um aspecto saliente na grafia da palavra ou ao seu redor (p. ex., o arco dourado que aparece atrás do rótulo McDonald’s) e seu significado e/ou pronúncia.
  Com efeito, as crianças em idade pré-escolar que participaram do estudo de Masonheimer, Drum e Ehri(1984) mostraram-se alheias às trocas de letras introduzidas em uma série de rótulos familiares (p. ex., Xepsi no lugar de Pepsi ou OcDonald’s no lugar de McDonald’s) e continuaram a ler os rótulos como se nada tivesse sido alterado (p. ex., lendo Pepsi em vez do Xepsi).
Fase Alfabética Parcial

    À medida que as crianças aprendem os nomes e os sons das letras, elas começam a compreender que as letras representam sons na pronuncia das palavras e passam a ler por meio do processamento e do armazenamento de relações entre as letras e os sons. Inicialmente, contudo, a criança só é capaz de processar relações letra-som para algumas letras nas palavras, talvez a primeira e a última letra. Por exemplo, ao ver e escutar a palavra bebê, a criança pode notar que a letra “b” no início e no meio da palavra corresponde ao som/be/que ela é capaz de detectar na pronúncia da palavra. Essa compreensão permite-lhe usar informação de natureza visuofonológica para criar uma via de acesso à memória, de maneira que, ao ver a grafia da palavra novamente, ela consegue se lembrar tanto do seu significado quanto de sua pronúncia. Contudo, uma vez que a criança só é capaz de processar relações letra-som parcialmente, a representação da palavra é ainda incompleta, algo como B_B_.
    A criança identificaria apenas algumas letras de cada palavra, como por exemplo o “S” e o “O” da palavra sono, o que poderia implicar em dificuldade de interpretação quando estivesse diante da palavra sino, por exemplo.
Fase Alfabética Plena

    Caracteriza-se pela habilidade de ler por meio da recodificação fonológica e requer o processamento de todas as relações letra-som na palavra. Essa habilidade permite ao leitor armazenar representações completas da grafia das palavras na memória. Como consequência a leitura torna-se mais acurada. Ou seja, o leitor nessa fase é capaz de identificar uma palavra familiar, como por exemplo, gato, a despeito de sua semelhança com outras palavras também familiares como, por exemplo, gata, gado, galo, gota, gola, pato, jato, etc.
   Caracteriza-se pela completa identificação de todas as letras de cada palavra e sua respectiva correspondência sonora, permitindo assim uma leitura correta, que vai ser muito mais rápida em uma fase posterior.
Fase Alfabética Consolidada

   Na qual o leitor é capaz de ler sequências de letras que ocorrem com uma grande frequência, como por exemplo ENTE, que está presente em dente, mente, carente, saliente, etc., em vez de ler cada letra isoladamente.
    À medida que o vocabulário visual aumenta, sequencias de letras que ocorrem em diversas palavras (e seus respectivos sons) são consolidadas em unidades maiores, tornando os leitores capazes de operar com unidades correspondentes a morfemas e/ou sílabas. Essas unidades são mais econômicas, por que ajudam a reduzir o número de conexões entre a escrita e a fala, necessárias para processar e armazenar a grafia das palavras na memória.
    Um fator interessante da alfabetização consolidada é que o leitor alfabetizado, e com a leitura já automatizada, terá dificuldade em ignorar um estimulo escrito (EHRI, 2007).
    Uma das funções da neuropsicopedagogia é procurar entender de que forma ocorrem os processos de aprendizagem, principalmente os novos estudos pautados numa visão neurocientífica e dentro disso procurar articulações que possam trazer maiores benefícios para os aprendentes e ensinantes, pois aprendizagem é isso, busca, renovação, ressignificação e compartilhamento de saberes.
  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

EHRI, Linnea. Aquisição da habilidade de leitura de palavras e sua influência na pronuncia e na aprendizagem do vocabulário. In MALUF, Maria Regina. CARDOS-MARTINS, Cláudia. [et al] Alfabetização no século XXI: como se aprende a escrever.

OLIVEIRA, Marta. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. 5 ed. São Paulo: Scipione, 2010.

SANCHEZ- CANO, Manuel. Manual de Assessoramento Psicopedagógico. Porto Alegre: Artmed, 2011.

SNOWLING, Margaret. HULME, Charles. A ciência da leitura. Porto Alegre: Penso, 2013.

SOUZA LIMA, Elvira. Quando a criança não aprende a ler e a escrever. São Paulo: Sobradinho 107, 2003.

______. Neurociência e Aprendizagem.2 ed. São Paulo: Inter Alia Comunicação e Cultura, 2010.


Como fazer a citação deste artigo:

HENNEMANN, Ana L. Alfabetização na Perspectiva de Linnea Ehri Novo Hamburgo, 20 julho/ 2016. Disponível online em: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2016/07/
alfabetizacao-na-perspectiva-de-linnea.html






[1][1] Especialista em Alfabetização, Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva, Neuropsicopedagogia Clínica e Neuroaprendizagem. - whatsApp - 51 9248-4325
[2]Drª em Psicologia da Educação pela Universidade da Califórnia. 

Emoções_aprendizagem através de aplicativo

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     Todos nascemos com um “kit básico emocional” que são fenômenos expressivos, de curta duração mas que envolvem a ativação de estados de sentimentos que servem para nos auxiliar na adaptação ao ambiente. As emoções teriam como função: coping (enfrentamento) e socialização. Por exemplo: se percebemos que alguém está sorrindo, associamos o sentimento de felicidade e dessa forma já temos um feedback de como interagir com aquele indivíduo naquele determinado momento.
     Mas como fazer esta associação se não nos foi trabalhado estas noções? Pois temos o kit básico emocional, mas isso não é garantia de que sabemos usá-lo, portanto, emoções precisam ser trabalhadas desde o nascimento até a morte!
     Goleman (2013) menciona que a compreensão emocional básica se inicia na primeira infância: por volta de 2 a 3 anos, é possível relacionar palavras a sentimentos e classificar expressões faciais. No entanto, a partir dos 6 meses de idade começa a ser ativado um circuito de empatia que nos permite modelar as expressões/emoções daqueles que interagem conosco, são os “neurônios-espelho”. São circuitos que nos colocam em sintonia com alguém ao despertar o estado emocional identificado no outro. Contudo é lá na adolescência que já é possível 'ler' os sentimentos com precisão, sendo essa a base de interações sociais mais tranquilas.
    Como se pode perceber as emoções exigem um trabalho de “lapidação” durante toda a infância. Necessita a realização de um trabalho integrado onde a criança não apenas reconheça a emoção, mas que também saiba nomeá-la e compreender o significado da mesma.  E por isso, venho compartilhar com vocês um aplicativo que pode ser utilizado em diferentes contextos, familiar, escolar e clínico. É o ”Emoji Game” criado pela Educação Futura, cujo responsável é o professor Tiago B. J. Eugênio.
    O Emoji proporciona a identificação das expressões faciais fazendo com que a criança através do lúdico se aproprie de conhecimentos que agreguem valor as suas habilidades socioemocionais. Esta interação com o jogo fará com que a mesma comece a prestar mais atenção em si e nos outros, noções básicas e essenciais as quais descrevi no artigo “As crianças estão mudando o foco”.
    No contexto escolar e clínico há toda a possibilidade de criação de estratégias de intervenção, tais como: jogos de memória de emoções, dados de sentimentos, trilhas das emoções e quem sabe até criar um jogo de detetive de emoções.
    O jogo contribui também para indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) favorecendo o autoconhecimento, a empatia e a compreensão destes fatores.
 Ou então assistam no youtube um tutorial do jogo:
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