Ana Lúcia Hennemann
Entender e fazer uso do conteúdo proporcionado pelo contexto escolar é um dos aspectos que são avaliados quando se diz que o aluno tem um bom desempenho escolar, pois significa que ele está aprendendo, que está “aumentando a sua capacidade para responder aos estímulos educacionais”.
Os conteúdos escolares são estruturados de acordo com o nível escolar que o aluno se encontra, por exemplo: nas séries iniciais a organização curricular está voltada à alfabetização, ou seja, são proporcionadas noções básicas envolvendo aspectos relacionados à leitura e escrita, numeracia, lateralidade, etc. O mínimo esperado é que o aluno ao final do 3º ano do Ensino Fundamental consiga ter um bom nível de leitura e interpretação e consiga fazer uso disso para os demais contextos...
Todos estes aspectos envolvem diversos fatores, e principalmente, um bom funcionamento cerebral. Por exemplo, para que o aluno consiga decodificar o código linguístico, ou seja, ter apropriação do alfabeto e usar suas variáveis até transformá-lo ou decodificá-lo em textos, se faz necessário que os neurônios envolvidos neste processo passem por uma maturação, uma mielinização, a qual lhe dará maior velocidade no processamento de todas estas informações. Portanto, esses neurônios necessitam ser revestidos com uma espécie de “capa” que faça com que eles consigam “movimentar-se” mais rapidamente para fazer a junção de todas as informações e responder ao estímulo proposto.
Se pensarmos na leitura da palavra “bola”, que pode parecer tão simples, são necessários o processamento de mais de 27 áreas cerebrais para que a leitura realmente tenha fluência e velocidade, pois a aprendizagem desta palavra demandou tempo. Inicialmente, apenas ocorreu a maturação das áreas visuais, pois quando víamos a imagem da palavra percebíamos: um “risquinho” com 2 barriguinhas que significam um som, que vai para área auditiva e depois volta para a área visual e junta um símbolo em formato de círculo que mais tarde entendemos como letra O, e novamente faz esta seleção de sons e riscos com as letras posteriores. Tudo isso explicado numa versão muito grotesca do que realmente acontece, mas ao mesmo tempo nos dá o entendimento de quantos fatores são necessários para que a maturação dos neurônios envolvidos neste processo de leitura ocorra.
No entanto, além de todos estes aspectos há fatores, tais como: qualidade de sono e alimentação. Por exemplo, durante o sono ocorre “o crescimento das espinhas dendríticas, que são pequenas saliências de células cerebrais que auxiliam na conexão entre as mesmas, facilitando assim a passagem de informação através das sinapses e desta forma ampliam a memória de longo prazo. ” (Sono: alicerce da aprendizagem) e também ocorrem aspectos relacionados a “faxina noturna” (HERCULANO-HOUZEL, 2013), ou seja, a remoção de toxinas produzidas pelo organismo celular.
Do mesmo modo que o sono, uma boa alimentação influencia na saúde de nosso cérebro, melhorando o nosso desempenho cognitivo, pois traz mais oxigenação e energia, que são pressupostos básicos para que as informações provindas do ambiente (interno e externo) possam ter maior velocidade no processamento neural.
Quando nosso organismo não tem nutrientes considerados saudáveis para o cérebro, o mesmo vai funcionar também, porém de forma mais lenta. E se pensarmos a longo prazo, numa situação onde há carência demasiada destes nutrientes, podem começar a ocorrer problemas na memória, alterações no humor e consequentemente pioras na retenção de informações.
Uma pesquisa relacionando alimentação e desempenho acadêmico foi realizada com 493 crianças britânicas, na idade entre sete e nove anos, verificando o consumo de Omega-3 e a relação do mesmo com o aprendizado. Os pesquisadores Alex Richardson e Paul Montgomery, professores da Universidade de Oxford, optaram pelo Ômega-3 (EPA[1]e DHA[2]) porque ele é um ácido graxo, popularmente conhecido como “gordura boa”, essencial para um bom funcionamento cerebral.
O ômega 3 pode ser encontrado em peixes (ex.: atum, sardinha, salmão, tilápia, anchova, cavalinha, bacalhau), frutos do mar, algumas algas, na linhaça, na chia, nas nozes, castanhas e amêndoas.
Para verificar o nível de ácido graxo Ômega-3 nas crianças, os pesquisadores fizeram coleta sanguínea através do dedo e entrevistaram os pais investigando o consumo de peixe na dieta das crianças.
Os resultados desta pesquisa, foram publicados em 2013, na revista PLOS ONE e mostraram que todas as crianças que tinham dificuldades em leitura (de acordo com avaliações nacionais) apresentavam baixo índice de Ômega-3 especialmente no que se refere ao DHA, dois terços destas crianças apresentavam um nível de leitura abaixo do seu nível de idade. As crianças que tinham níveis mais elevados de Ômega-3 (principalmente DHA) apresentavam melhores escores na leitura e na memória, bem como menos problemas de comportamento.
As pesquisas com Ômega-3 e sua correlação com o desempenho acadêmico necessitaria ser replicadas com estudantes de populações diferenciadas e também devemos ter o entendimento que existem outras variáveis que influenciam o desempenho acadêmico, portanto é cedo demais para dizer que crianças que carecem de Ômega-3 apresentam dificuldades acadêmicas, mas por outro lado todos sabemos que um bom funcionamento cerebral necessita de bons nutrientes para que possamos realizar as atividades diárias com maior disposição e quando se trata de crianças, cujo sistema nervoso está em fase de desenvolvimento devemos primar por dietas saudáveis que possam lhe dar condições favoráveis para aprender.
Referências:
EDUCAVITA. Definição de desempenho acadêmico. Disponível online em: https: educavita.blogspot.com.br/2013/12qdefinicao-de-desempenho-academico.html
HERCULANO-HOUZEL, Suzana. Faxina Noturna. 12/11/2013. São Paulo, Jornal Folha de São Paulo, 2013.
HENNEMANN, Ana Lúcia. Sono: Alicerce da Aprendizagem. Disponível online em: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2017/01/sono-alicerce-da-aprendizagem.html
Universit of Oxford. Low Omega-3 could explain why some children struggle with readingDisponivel online em: http://www.ox.ac.uk/news/2013-09-05-low-omega-3-could-explain-why-some-children-struggle-reading
------------------------------------------------------------------------------------------------------
[1]Especialista em Alfabetização, Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva, Neuropsicopedagogia Clínica e Neuroaprendizagem. - whatsApp - 51 99248-4325
Como fazer a citação deste artigo: HENNEMANN, Ana L. Consumo de Ômega-3 melhora o desempenho acadêmico?. Novo Hamburgo, 28 janeiro/ 2017. Disponível online em: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2017/01/consumo-de-omega-3-melhora-o-desempenho.html |
[1]EPA (ácido eicosapentaenoico) tem como principal função a proteção das artérias e veias, que, além de ajudar na redução das taxas de colesterol, também protegem nosso corpo de doenças coronárias.
[2]DHA (ácido docosahexaenóico) aumenta a concentração de fosofolipídios das células de nossos olhos, tecidos e cérebro, melhorando assim toda a atividade neurotransmissora e também a memória do indivíduo.